Inteligência policial no combate ao crime organizado
Investimento em infraestrutura e valorização da Polícia Civil são imperativos para conter o avanço de organizações criminosas
O Estado de São Paulo é berço de uma das maiores facções criminosas do País, que já expande sua atuação para além do tráfico de drogas, armas e até lavagem de dinheiro. Recentes investigações divulgadas pela Polícia Civil paulista revelam o envolvimento do bando com roubo de celulares -- atraídos pelo lucro exponencial das transações via Pix -, e em esquemas com concessionárias de transporte municipal.
O trabalho de investigação requer investimento em infraestrutura, tecnologia e qualificação dos policiais. A partir do mapeamento da rede criminosa e identificação de como e onde agem, é possível realizar operações de busca, apreensão e prisões. E um dos pontos mais importantes que resulta deste esforço: o bloqueio de bens e recuperação de valores obtidos ilegalmente. O estrangulamento financeiro das organizações criminosas é ponto-chave para enfraquece-las.
O crescimento do crime organizado no Estado de São Paulo resulta de uma política de segurança que há décadas vem negligenciando a Polícia Civil -- responsável pelo trabalho investigativo e de inteligência. Outros fatores também contribuem diretamente, como a leniência com as atividades criminosas no sistema prisional, a ausência de planejamento estruturado e direcionado para o combate ao tráfico de drogas, bem como à lavagem de dinheiro, possibilitando que os criminosos alcancem a fase de “legalização” dos ativos.
Muito poderia ser feito no sentido de conter o avanço do crime organizado e, indo além, até mesmo sufoca-lo. A recomposição do déficit da Polícia Civil, cerca de 1/3 do efetivo, permitiria investigações mais céleres, evitando-se o acúmulo de inquéritos por equipes diminutas. A regulamentação da jornada de trabalho, extinguindo-se o sobreaviso ininterrupto de 30 dias consecutivos e a valorização salarial são fatores determinantes para que um policial exerça suas funções com excelência. Os planos de contingência na Polícia Civil, em que delegacias são fechadas a fim de otimizar o atendimento diante da falta de profissionais, precisa ser revisto e cessado.
O avanço do crime organizado e a crescente onda de criminalidade no Estado de São Paulo mostram que a segurança pública caminha para o caos, sendo um grande desafio para o próximo governador. A solução passa pela vontade política em valorizar o policial civil, freando a evasão quase que diária de profissionais, concursos regulares para recomposição do efetivo, investimentos em infraestrutura e, principalmente, liberdade para a investigação, sem ingerências políticas.
A sociedade paulista clama pelo fortalecimento de suas polícias e ações contundentes contra o crime organizado, restabelecendo-se a sonhada paz social que o cidadão tanto merece.
Dario Elias Nassif, delegado de polícia e secretário-geral da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Adpesp)