Filmes da Netflix: ‘I am mother’ (parte 2 de 4)

Por Cruzeiro do Sul

"Filha (Clara Rugaard): respostas ambivalentes às questões levantadas por Mãe-robô"

O objetivo do projeto implementado na Unidade de Repovoamento é o aperfeiçoamento da humanidade. Os humanos que não atenderem aos requisitos especificados serão exterminados pelos robôs e é possível que os próprios criadores dos robôs moralistas tenham sido eliminados por suas criações, porque afinal são humanos com todas as falhas morais que caracterizam a espécie. O projeto levou a uma guerra devastadora entre robôs e humanos, em que estes foram derrotados, e que deixou o planeta em escombros. O objetivo dos robôs agora é o de repovoar a Terra com uma espécie humana supostamente perfeita, livre de suas piores paixões que geram seus piores atos.

Um dos crimes cometidos pela humanidade teria sido a destruição do meio ambiente, como vemos no filme, e o que aparentemente sobrou foram plantações de milho. Por isso, Mãe-robô exige severa higiene de Filha e um rato vindo do exterior da Unidade de Repovoamento é sumariamente incinerado. Ela procura ensinar à jovem o que de melhor a humanidade produziu nas artes e nas ciências humanas ao longo da História. Submete Filha a testes periódicos para aferição dos conhecimentos éticos e morais que a jovem absorveu e que os seres humanos ignoraram. Esse descaso teria levado a humanidade à degeneração. Filha também faz exercícios físicos, toma remédios. Tem as características próprias do ser humano. Age como adolescente comum, que esconde coisas de Mãe-robô, comove-se com a condição de Intrusa, tem amor pelo irmão e cuidará dele como Intrusa tentou fazer com ela.

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Gostaria de analisar uma passagem do filme em que mãe-robô submete a filha a um teste de conhecimentos éticos relacionados com o problema de transplantes de órgãos humanos:

Mãe-robô: “Imagine um médico com cinco pacientes e que todos precisam de transplante, mas sem órgãos compatíveis disponíveis. Um dia, um sexto paciente vem ao consultório correndo risco de morte. Ele é curável, mas é um doador compatível com os outros cinco pacientes. Se o médico atrasar o tratamento, o novo paciente morrerá, mas seus órgãos poderão salvar os outros cinco pacientes. Se o médico tratar o novo paciente, uma vida será salva, mas outras cinco serão perdidas. Qual a melhor linha de ação do médico? (...)” Filha responde satisfatoriamente à questão e Mãe-robô continua: “Os axiomas fundamentais sugerem que há uma obrigação moral em minimizar a dor do maior número possível. Agora imagine que você seja o médico e também a única doadora compatível para seus pacientes. Qual a escolha certa?” (...) Filha: “Eu conheço os cinco pacientes? São pessoas boas? Honestas? Desonestas? Preguiçosas? Trabalhadoras? Eu, uma médica que salva vidas, poderia dar minha vida por assassinos ou ladrões que machucarão mais gente graças ao meu sacrifício.” Mãe-robô diz: “Toda pessoa não tem um valor intrínseco e um direito igual de viver e ser feliz?” Filha: “Eu pensava assim no mês passado, nas suas aulas de Kant”.

Esta resposta da filha à essa questão contém uma ambivalência, porque não admite uma única solução. Esta depende de certas contingências, como as levantadas por Filha.

Vale ressaltar que o teste é decisivo para a continuidade da vida de Filha, como veremos adiante. “Seu aniversário está próximo e seria uma pena se suas notas não atendessem às projeções com base no ano passado”.

Esta série de artigos está incluída no projeto Cine Reflexão da Fundec

nildo.maximo@hotmail.com