Os astros das farmácias, como a Tita e o Ditinho
Os "práticos" de antigamente continuam sendo os astros e personagens desta história
O avanço das enfermidades no Brasil, desde o início da pandemia de Covid-19, tem feito a cada dia novos usuários da farmácia de alto custo. Em Sorocaba, ela está instalada em espaço do Hospital Leonor Mendes de Barros. De fevereiro a setembro de 2022, passei por essa experiência. O medicamento que eu precisei, indicado por médico especialista, tem um custo de R$ 22 mil por 60 cápsulas. Eu tomava duas cápsulas por dia, dando, assim, o consumo de uma caixa a cada 30 dias. Certamente que não teria como obter o remédio, comprando uma caixa/mês, nestes últimos oito meses.
Fiz essa introdução para relatar a minha vivência na farmácia de alto custo. Sobre o atendimento dos profissionais nos treze guichês, conversei com algumas pessoas. Entre elas, o seu João, que elogiou muito o tratamento humano que recebe há anos. Confesso que sou um dos testemunhos dessa verdade. A educação e respeito humano que encontrei e observei durante os meses em que fui ao local me deixaram gratificado como pessoa. É bom saber que existe no serviço público de saúde essa exemplar educação no atendimento aos enfermos. Seria injustiça citar todos os atendentes, porque poderia me esquecer do nome de alguém. Gostei tanto que até enviei mensagem à gestão da farmácia cumprimentando o serviço de acolhida humana. Abro aqui um parêntese para dizer que vou nomear como “astro” o profissional de farmácia. Eles são iluminados para essa missão.
Em 5 de setembro é comemorado o Dia do Oficial de Farmácia do Brasil. Esse nome, oficial, é dedicado àqueles que nos atendem desde a época em que havia os “práticos” sem a formação atual de curso superior de farmacêutico. Antigamente, havia os chamados “aplicadores de injeção” e os dedicados donos das farmácias. Álvaro Curraleiro Jamad citou o Ditinho, da farmácia do Armínio Vasconcelos Leite, da rua Nogueira Padilha, nos anos 50 e 60. Tabajara Dias disse que os seus pais, irmã e ele mesmo levaram as agulhadas das injeções do Ditinho. Ana Maria Leister de Matos “viajou no tempo” em que era criança e tinha “tosse comprida”. Os seus pais a levava na farmácia do Armínio para ser medicada e receber as agulhadas do dono e do Ditinho. Marcos Maldonado recorda das vitaminas B12 que ia tomar na farmácia do ex-prefeito Armínio.
As farmácias do Rogério Lopes e do “seu Domingos”, na mesma rua dos Morros, fazem parte das memórias de quem hoje tem mais de 50 anos de idade. Sônia Dini e Luiz Antônio Stievano citaram nas suas lembranças, as agulhadas que recebiam nas farmácias do bairro da Vila Hortência. O Henrique, da farmácia do Rogério e, no início da Farmaponte, na av. São Paulo, o Jorge, da farmácia Ideal, Wilson, da Drogalândia, Chiquinho, da farmácia São Domingos, também estão na memória do Marcos Dini. O Antônio Soares “Tonhão” foi no “fundo do baú” encontrar as suas recordações nas farmácias, com os atendimentos do Toninho, da Santa Izabel, e Zamur, da farmácia Avenida. O Edson Soares, nos anos 1950 recebia as agulhadas do seu José Nastri, na farmácia Ideal, da rua Granada. O meu irmão Darci Testa trabalhou mais de 30 anos nas farmácias. O seu filho, Ricardo, teve o pai como exemplo e se formou na faculdade de farmácia.
Hoje com as faculdades de farmácia e as exigências legais obrigatórias de cada farmácia em manter farmacêuticos responsáveis, o cenário mudou. Os “práticos” de antigamente, no entanto, continuam sendo os astros e personagens desta história. Na Vila Santana, como cita Milton Gori, o Miguel Martins Filho, da farmácia São Miguel, na rua Aparecida, recebia os ferroviários da EFS entre os principais clientes. Em outra farmácia da mesma rua Aparecida, Antonio e sua esposa Erival no atendimento e a filha, Cida, aplicando injeções, deixaram saudades na Rosita Martini. A farmácia Santa Rita foi lembrada pelo atendimento do dono, Nelson de Arruda, e de sua esposa, Lirys. “Posteriormente, com Guido Vieira e a saudosa Fortunata de Arruda ‘Tita’, que acabou ficando dona do estabelecimento na rua Falchi Baddini, 32”, diz Reinaldo Camargo. A farmácia Lila, na rua Hermelino Matarazzo, está na memória de muitos moradores, como o Cesar Fabri e a Jussaro Mimo. A farmácia Vitória, do Osvaldo Vieira, na rua Arlindo Luz, faz parte da história de vida do João Bona. Foram dezenas de indicações dos leitores, revivendo as suas injeções e atendimento dos “oficiais astros”, que seria impossível caber os seus nomes neste artigo.
Vanderlei Testa (artigovanderleitesta@gmail.com) é jornalista e publicitário. Escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul