História das máscaras

As máscaras faciais médicas começaram a ser usadas durante a peste negra, nos anos 1300

Por Cruzeiro do Sul

 

Desde o começo da pandemia, minha mãe ficava surpresa com o uso de máscaras, como muitas outras pessoas e dizia que, quando era criança, lia muito as revistinhas do Capitão Marvel e os bandidos estavam sempre com máscaras. Um exemplo foi o Saqueador Mascarado. Mas os heróis também usavam, como o Cavalheiro Negro, Cavalheiro Fantasma e Durango Kid, entre outros.

As máscaras têm histórias ao longo de séculos. Os contadores de histórias usavam máscaras em suas narrativas. Tinham papel espiritual e como instrumentos em rituais sagrados na África, no Egito, com as múmias; indígenas norte-americanos, como Hopi e Zuni; nativos brasileiros, representando animais e pássaros; na Ásia, com rituais e casamentos; tribos primitivas em matrimônios e rituais de passagens; na China, a Ópera de Pequim; os esquimós, no Alaska; os gregos, nas festas em homenagem a Dionísio e no teatro. Após a queda do Império Romano, os cristãos proibiram o uso das máscaras, pois as consideraram do paganismo.

Quando os europeus chegaram à América, trouxeram máscaras para brinquedos de crianças e festas. Outro exemplo é a ópera de Giuseppe Verdi “Um baile de máscaras”. Ainda hoje são usadas no Carnaval, no Brasil e em Veneza, na Itália. O Halloween, Dia das Bruxas, comemorado em 31 de outubro, principalmente nos Estados Unidos, e em esportes, com a esgrima, e na apicultura, para se proteger das abelhas.

Já as máscaras faciais médicas começaram a ser usadas pelos médicos durante a peste negra, nos anos 1300. Cobriam o rosto e tinham um espaço para o nariz onde colocavam palha e ervas como hortelã, por entenderem que evitavam o contágio pelo ar.

Durante a Praga de 1656, os médicos passaram a usar sobretudo de couro, luvas, calças, botas e chapéu. Também usavam uma vara para tocar os pacientes. Além disso, tinham uma máscara de pássaro, com bico, desenvolvida pelo médico francês Charles de Lorme, visando diminuir a propagação das doenças. Usavam palha e ervas aromáticas, como hortelã, cravo, pétalas de rosa, mirra, cânfora, além de óculos de vidro.

No século 18, Plínio e da Vinci, acreditavam que inalar partículas de poeira pelo ar poderia prejudicar as pessoas, o que levou Alexander von Humboldt, da Prússia, a criar um respirador para minérios, em 1799. Durante o século 19, os trabalhadores das fábricas eram instruídos a usar máscaras para filtrar as partículas suspensas no ar.

O médico francês Paul Berger, em 1897, foi um dos primeiros a usar uma máscara durante uma cirurgia. Também estava ligado ao trabalho do bacteriologista alemão Carl Flügge, descobridor de que a saliva pode ter bactérias que causam doenças. Usava uma máscara com seis camadas de gaze. Demorou décadas para que médicos adotarem o uso das máscaras. Em 1905, a médica Alice Hamilton menciona a ausência de máscaras em cirurgias. No ano seguinte, o médico Berkeley Moynihan publicou um livro defendendo o uso de máscaras.

Depois disso, com a praga da Manchúria, iniciada em 1910, o médico Wu Lien Teh chegou na cidade de Harbin, na China e insistiu para que todos os médicos e enfermeiros usassem máscaras. Também foi um incentivador do uso de máscaras durante a gripe espanhola, em 1918. Considerado o “pai da saúde pública”, foi homenageado pelo Google Doodle em março de 2021.

Assim, as máscaras descartáveis se tornaram populares entre 1960 e 1972. Em 1995 foi inventada a máscara N95. Certamente, se as máscaras fossem usadas anteriormente, muitas vidas poderiam ter sido salvas. Em viagem recente para a Coreia do Sul, notei que as pessoas usam máscaras em lugares fechados e até nas ruas. Além disso, vale a pena ouvirmos a música “Masquerade”, de “O Fantasma da Ópera”.

Paulo Sérgio Bretones é formado em Química, com mestrado e doutorado em temas relacionados à Educação em Astronomia pela Unicamp. Atualmente é professor associado da Universidade Federal de São Carlos