Armagedon
Muito antes do surgimento da arqueologia, antropologia e outras ciências, nossos mais remotos antepassados temiam por alguma catástrofe que pudesse extingui-los
Aos 26 de setembro deste ano a Nasa fez uma nave ou sonda espacial ir de encontro ao asteroide Dimorphos, que contorna outro, de maior tamanho, denominado Didymos, os quais estão a onze milhões de quilômetros da Terra e não nos oferecem perigo nem ao nosso planeta. Desse impacto espera-se ter alterado a órbita do primeiro em relação ao segundo asteroide. A finalidade dessa missão é descobrir a capacidade de nos defendermos de asteroides que possam pôr em risco nossa sobrevivência ou nos extinguir.
O temor pela nossa extinção remonta aos tempos bíblicos. Muito antes do surgimento da arqueologia, antropologia e outras ciências, nossos mais remotos antepassados temiam por alguma catástrofe que pudesse extingui-los. O Livro do Gênesis trata do dilúvio e da arca de Noé, que salvou a si mesmo, a própria família e um casal de cada espécie de seres vivos, enquanto a terra era coberta por torrenciais chuvas que duraram quarenta dias e quarenta noites.
O Livro do Apocalipse escrito pelo evangelista João aborda o Armagedon, batalha a ser travada próxima da cidade de Megido entre anjos e demônios, cuja vitória caberá aos primeiros, conduzidos por Jesus montado em um cavalo branco e assistido pelo Criador acompanhado da Corte Celeste, composta de 24 anciãos.
Na Idade Contemporânea vários arqueólogos descobriram fósseis de dinossauros e de outros seres que viveram no período jurássico da formação geológica da Terra, cujas datações pelo carbono 14 revelaram a extinção em massa num mesmo período e num intervalo de tempo muito curto. Após muitas outras pesquisas e descobertas, os cientistas concluíram que a extinção deles aconteceu pela queda de um grande asteroide, na região onde hoje se encontra a Península de Yucatán.
O cinema também abordou o tema da extinção e ao final do século passado dois filmes fizeram sucesso ao redor do mundo. Foram “Impacto Profundo” e “Armagedon”, ambos de 1998. O primeiro mostra a destruição parcial que um pedaço menor do asteroide pode causar após colidir contra nosso planeta. O segundo mostra a destruição que diversos fragmentos do grande asteroide podem causar ao redor do mundo ao atingirem grandes cidades. Em ambos eles são destruídos, cada qual mediante estratégias próprias.
Ainda que o tema possa servir aos diretores e produtores do cinema, a hipótese da extinção é tão real quanto a nossa existência. Criar um sistema defensivo contra grandes corpos celestes, capaz de desviá-los da rota de impacto contra nosso planeta não é missão impossível, mas requer muitas pesquisas e investimentos.
Religião, ciência e cinema são ramos do nosso conhecimento os quais nos causam temor, fé, crenças, perseverança, criatividade e, também, estímulos a encontrar soluções cientificamente possíveis para evitarmos que um asteroide cause um dilúvio ou o apocalipse, sem que tenhamos a oportunidade de combate-lo não em nosso planeta, mas muito longe de nós, no vazio espaço do universo. Nada a mais.
Marcelo Augusto Paiva Pereira é arquiteto e urbanista.