Filmes da Netflix: ‘Nada de novo no front’ (parte 1 de 3)

Por Cruzeiro do Sul

Cena do filme alemão "Nada de novo no front"

Em 1928, o escritor alemão Erich Maria Remarque publicou o livro “Nada de novo no front”, que retratava os acontecimentos envolvendo um jovem recruta alemão que combateu na Primeira Guerra Mundial (1914-1918). O livro teve uma adaptação famosa para o cinema em 1930, feita pelo norte-americano Lewis Milestone. Outra adaptação foi feita pelo também norte-americano Delbert Mann, em 1979. Ambos estão disponíveis no YouTube com o título ‘Sem novidade no front’.

A nova versão, recém lançada e disponível na Netflix, foi dirigida pelo alemão Edward Berger em 2022. Agora, “Nada de novo...” mostra a carnificina da guerra vivida por Paul Bäumer, um jovem que se alista às forças alemãs com grande entusiasmo. Como as versões anteriores, mostra algumas das desgraças que ocorrem em todas as guerras: violência, destruição, morte de soldados e de civis inocentes de todas as idades, pilhagens, tortura, fome. E, embora a guerra seja patrocinada por indivíduos que estão confortavelmente instalados longe dos campos de batalha e que poupam seus filhos de lutar, conseguem fazer que uma parte da população, apropriadamente manipulada, vá à guerra imbuída de valores positivos de bravura, patriotismo, honra e se orgulhe de ser condecorada por esses valores. Existe assim uma contradição entre os que patrocinam as guerras e os infelizes que nela combatem.

Um general alemão manda, sem qualquer escrúpulo, homens para a morte certa ao ordenar um ataque contra as tropas francesas, durante as seis horas decorridas entre a assinatura do armistício e o horário marcado para o cessar-fogo. O experiente soldado Kat, humano e analfabeto, fala a Paul sobre a brutalidade dos superiores, como parece suceder em todas as guerras: “Se deres poder a um homem, ele torna-se uma besta.”

A disparidade entre os que provocam a guerra e os combatentes que nela arriscam ou perdem a vida pode ser vista no caso da sangrenta invasão do Iraque pelos Estados Unidos em 2003. O que motivou a invasão foram os interesses das empresas extratoras de petróleo, da indústria bélica, das empresas de reconstrução do país arrasado. Com participação decisiva de parte da imprensa, a invasão foi viabilizada engabelando o público com a disseminação das mentiras de que era preciso destruir as armas químicas iraquianas (que nunca foram encontradas) e o de cortar a ligação de Saddam Hussein com a Al-Qaeda, que nunca foi comprovada. Para completar o menu, a propaganda alegava que os invasores estavam defendendo valores como democracia e liberdade (a campanha no Iraque chegou a ser chamada Iraq Freedom, ou seja, Liberdade do Iraque).

Neste filme, os soldados famintos tentam sobreviver em trincheiras imundas, inundadas, em ruínas. Essa condição contrasta com a comida farta e requintada e as condições gerais da vida do alto comando militar e dos representantes alemães na negociações de paz.

‘Nada de novo no front’ é dividido em quatro segmentos de mesma duração aproximada, que começam nos seguintes momentos:

1. Primavera de 1917 no norte da Alemanha

2. 18 meses depois, poucos meses antes do término da guerra

3. Últimos três dias de guerra (8 de novembro de 1918)

4. Seis horas antes do prazo final de cessar fogo completo, marcado para as 11 horas de 11 de novembro de 1918.

nildo.maximo@hotmail.com