Missão Dart

Fica demonstrada a necessidade de acompanhar asteroides e cometas que passam nas proximidades da Terra, assim como a possibilidade de colisão e seu potencial destrutivo

Por Cruzeiro do Sul

A missão Double Asteroid Redirection Test (Dart), da Nasa, foi lançada com o intuito de colidir com um asteroide chamado Dimorphos, de 160 metros de comprimento.

O lançamento foi no topo de um foguete SpaceX Falcon 9, em 23 de novembro de 2021. O impacto ocorreu pouco mais de dez meses depois, no dia 26 de setembro de 2022, às 20h14 (horário de Brasília). Foi a primeira vez que os humanos mudaram o curso de um objeto celeste. O Dart foi um projeto conjunto entre a Nasa e o Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins (APL). Parceiros internacionais, como as agências da Europa, Itália e Japão, também contribuíram para projetos relacionados ou subsequentes. A colisão foi registrada por uma câmera a bordo da nave, por um satélite italiano, por observatórios em Terra e, também, pelo Telescópio Espacial James Webb.

A missão histórica Dart foi um primeiro teste de defesa planetária, para verificarmos a possibilidade de desviar um asteroide em trajetória de colisão com a Terra. O objetivo era empurrar a rocha espacial para mais longe e não destruí-la, como se fosse um jogo de bilhar cósmico.

Conseguimos ver a superfície do asteroide, com suas rochas e texturas em detalhes. A superfície do Dimorphos, coberta de pedregulhos, é semelhante às de dois outros asteroides encontrados por naves espaciais nos últimos anos: Bennu e Ryugu. Alguns cientistas acreditam que sejam rochas frouxamente ligadas como uma “pilha de escombros”.

A colisão ocorreu a mais de 11 milhões de quilômetros de distância da Terra e a uma velocidade de mais de 22 mil km/h, com uma margem de erro de apenas 17 metros em relação ao centro calculado como alvo. Foi realmente um sucesso. Mesmo assim, teremos que aguardar semanas ou meses para confirmarmos se de fato teve os resultados esperados na alteração da órbita do asteroide. A cratera deixada pelo Dart deve ter entre 10 e 20 metros de largura e os destroços da nave podem estar lá.

O asteroide 65803 Didymos tem um asteroide natural em órbita com um período de 11,9 horas, o que significa asteroide “gêmeo”. O objetivo da missão é Dimorphos, no sistema 65803 Didymos, um sistema binário de asteroides no qual um asteroide é orbitado por outro menor. O asteroide primário (Didymos A) tem cerca de 780m de diâmetro e seu pequeno satélite, Dimorphos (Didymos B), tem cerca de 160m de diâmetro e orbita a cerca de 1 km do primário. A massa do sistema Didymos é estimada em 528 bilhões de kg, sendo que Dimorphos tem 4,8 bilhões de kg.

O Dart teve como alvo o asteroide menor, Dimorphos. Didymos não é um asteroide geocruzador, e não há possibilidade de que o experimento de deflexão possa criar um risco de impacto. O asteroide principal foi descoberto em 1996, por Joe Montani, e o satélite Dimorphos, descoberto em 2003, por Petr Pravec e outros.

Cientistas estimam que existem 25 mil grandes asteroides no Sistema Solar. Entretanto, até hoje, as pesquisas e observações detectaram 8 mil. Portanto, os funcionários da Nasa consideram imperativo desenvolver um plano efetivo para o caso de um dos objetos próximos da Terra ameaçar o planeta.

Como isto pode ocorrer, fica demonstrada a necessidade de acompanhar asteroides e cometas que passam nas proximidades da Terra, assim como a possibilidade de colisão e seu potencial destrutivo usando a chamada escala de Turim.

Explicando melhor a escala de Turim: inicialmente, a probabilidade de colisão é zero, ou tão baixa que é considerada desprezível; depois, a chance de colisão extremamente improvável; a seguir, cálculos sugerem 1% de probabilidade de colisão, capaz de destruição e um encontro que representa um perigo sério de catástrofe global; finalmente, a colisão é inevitável, capaz de causar uma catástrofe global que arriscará o futuro da civilização tal como a conhecemos, quer a colisão ocorra no continente ou no mar. Um evento desta magnitude ocorre uma vez a cada 100 mil anos. Importante lembrar que ocorreram extinções em massa ao longo da história da vida na Terra. Como exemplo, ocorreu a extinção dos dinossauros, que teria sido causada pelo impacto de um asteroide há 65 milhões de anos.

Além disso, vale a pena assistirmos ao filme “Não olhe para cima” (2021), sobre dois astrônomos (Leonardo DiCaprio e Jennifer Lawrence) que fazem uma descoberta surpreendente: um cometa orbitando dentro do Sistema Solar e em rota de colisão direta com a Terra.

Paulo Sergio Bretones é professor do Departamento de Metodologia de Ensino da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).