Carnaval e Cinzas

Por Cruzeiro do Sul

 

O dia 21 de fevereiro de 2023 é dedicado ao final do período carnavalesco. No Rio de Janeiro, os desfiles das escolas de samba são realizados na avenida Marquês de Sapucaí, o chamado Sambódromo. Foi inaugurado no ano de 1984. Aproveitando os dias de Carnaval, grupos de foliões de Sorocaba e cidades vizinhas formam caravanas para estarem na cidade maravilhosa e no sambódromo de São Paulo.

Em Sorocaba, o Rei Momo, escolhido com a Rainha do Carnaval, é o carnavalesco José Alexandre. A rainha, Aline Soares, acompanha o rei em bailes, desfiles e eventos promovidos nos clubes. A eleição da corte real em Sorocaba aconteceu no dia 4 de fevereiro, no Sorocaba Clube. Bruna Russo é participante do maior bloco de percussão do interior do Estado de São Paulo. É o Bloco Krucatá, que se apresentou no dia 18 no estacionamento do Mercado Municipal de Sorocaba. Nesta terça-feira (21), encerramento do Carnaval, o povo não poderá participar no Parque das Águas. As chuvas, em fevereiro, inundaram o a área do parque e, por precaução, foram cancelada as apresentações nesse local.

Os tradicionais carnavais do Ipanema Clube e do Clube de Campo Sorocaba manterão a folia aos associados. O Recreativo é um dos mais antigos clubes de Sorocaba. A sede central foi desativada e neste ano não promoverá os seus bailes na sede campestre. No Monteiro Lobato, o bloco A Grande Família se divertiu e animou os festejos carnavalescos de 2023. O casal Juliana e Alexandre deu um show de samba no pé. Mazé e Zezinho, ícones do Carnaval, são a imagem da comunidade do samba de Sorocaba nos clubes e avenidas.

Domingo, dia 19 de fevereiro de 2023. São 6h40. O jornal Cruzeiro do Sul número 36.309 já está na porta de casa, entregue pontualmente pelo motoboy. Ao ler a edição impressa, o destaque da capa é o Carnaval. Na página 2, o artigo de dom Julio Endi Akamine chama a atenção pelo título: “Fraternidade e fome”. Mesmo sem os óculos, os meus olhos foram lendo palavra por palavra. Considero que foi uma das mais impactantes manifestações no relato da fome e apetite. A objetividade do arcebispo metropolitano de Sorocaba, com certeza, tocou o coração e a razão dos leitores. A sua avaliação da fome no Brasil, com 125 milhões de pessoas em situação de sobrevivência alimentar e 33 milhões de brasileiros acordando com a barriga roncando do vazio de alimentos, é impressionante.

Ao mesmo tempo da leitura do jornal, a televisão mostrava, desde a noite do sábado (18), o Carnaval “Globeleza”. Milhares de foliões ricamente vestidos com as mais variadas fantasias desfilavam pelo sambódromo de São Paulo. O mesmo acontecia nos demais Estados do País, com milhões de carnavalescos esquecendo a fome e apetite do ano inteiro.

Na cidade do Rio de Janeiro, a maioria dos participantes das escolas de samba é oriunda da periferia e favelas. As dificuldades de vida de cada família estão vivas na minha memória em assistir as campanhas de arrecadação de cestas básicas a essas comunidades carentes. No entanto, nestes dias de Carnaval, a ilusão das ricas vestimentas nos corpos frágeis dos moradores faz com que todos se sintam como imponentes personagens de um enredo da ilusão humana nas avenidas do samba.

A Campanha da Fraternidade que começa amanhã (22), Quarta-feira de Cinzas, é uma iniciativa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O tema de 2023 é Fraternidade e Fome. Essa temática vem ao encontro do texto de dom Julio Akamine. Nos próximos 40 dias, a população católica irá participar das celebrações da Quaresma refletindo sobre a fome. Sair de si para agir em prol do próximo que passa fome de justiça, alimentar, de direitos humanos, respeito e misericórdia, sem preconceitos, é a meta da campanha.

Às 6 horas da madrugada desta Quarta-feira de Cinzas, a Paróquia Nossa Medianeira de Todas as Graças inicia a sua primeira celebração de missa na Comunidade do Divino Espírito Santo, localizada na praça dos Sorocabanos, Jardim Saira. Segundo me contou o padre Washington Ribeiro, é para entrar no clima da Quaresma, que motiva os cristãos a refletirem as suas atitudes de solidariedade.

As escolas de samba atraem os turistas nas cidades que promovem os carnavais investindo milhões de reais. Infelizmente, o mesmo não se dá em investimentos na agricultura, para atender as famílias que vivem em estado de extrema pobreza. Fui ler o documento Caritas in Veritate, citado no artigo do arcebispo, que destacou: as palavras do papa Bento XVI. “É urgente também promover o desenvolvimento agrícola dos países mais pobres”. Penso como seria importante uma mobilização para nutrir quem passa fome. O lema da CF é: “Dai-lhes vós mesmo de comer”.

Vanderlei Testa (artigovanderleitesta@gmail.com) é jornalista e publicitário; escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul.