As diferenças pertencem à escola?
Estar em comunhão com as diferenças é mais do que ser tolerante, é repensar sobre a possibilidade de ampliar, enriquecer e multiplicar sua vida quando convive com as diferenças
Byanca Oruê Vieira dos Santos
Jéssica Caroline da Silva
Rafael Eras Garcia
Como aponta a pedagoga Rosane de Machado Oliveira, “as diferenças culturais são essenciais em todas as sociedades, pois são as diferenças que fazem a diferença, é a diversidade que oferece oportunidade de conhecer o outro, de respeitar, entender, analisar e estudar os conhecimentos culturais passados, na busca de enriquecer as diversas culturas do presente”.
O ambiente escolar é fundamental para o desenvolvimento de habilidades específicas, bem como para a formação social, na qual desenvolvemos pensamento crítico, argumentação, empatia e cooperação com o próximo, convívio e respeito com as diferenças. A escola, apesar de ser um ambiente repleto de diversidade de pessoas, objetivos e sentimentos, nem sempre pode acolher essas diferenças. Neste sentido, a psicóloga Luciana Pacheco Marques aponta que, durante muito tempo, negou-se a existência das diferenças no processo pedagógico. As diferenças eram percebidas como “desvio”, tendo como referencial a divisão normalidade versus anormalidade, demarcando a existência de fronteiras entre aqueles que se encontravam dentro da média e os que estavam fora desta.
Quando mantemos o foco nas diferenças, como “desvio” ou “estranho”, estigmatizamos as pessoas por suas diferenças, encaixando-as em uma série de características e rótulos sociais, impedindo que possamos perceber a totalidade e a riqueza que cada indivíduo traz consigo.
Estar em comunhão com as diferenças é mais do que ser tolerante, é repensar sobre a possibilidade de ampliar, enriquecer e multiplicar sua vida quando convive com as diferenças. A diversidade é necessária entre os seres humanos, que se constituem singulares, porém impregnados de contextos coletivos.
Compreender a importância do reconhecimento das diferenças nas escolas vai além de criar um ambiente de igualdade educacional, focado em uma pessoa. É criar mecanismos e práticas que defendem a construção, reflexão e compreensão das diferenças no ambiente escolar, incluindo as questões pedagógicas. Acompanhar a trajetória das crianças e interferir diretamente nas dinâmicas familiares é um potente espaço social de circulação para as diferenças, sendo um importante caminho para potencializar as transformações sociais.
Como profissionais terapeutas ocupacionais, temos construído nossa intervenção no campo da educação com base nas demandas concretas que atravessam a vida das pessoas com as quais trabalhamos. É imprescindível que possamos desenvolver metodologias de compreensão e intervenção que visem à autonomia, à participação e à emancipação social de maneira a criar estratégias de enfrentamento também na esfera macrossocial.
O convite final desse artigo é que possamos refletir nas intervenções práticas da escola, desafiando a possibilidade de trocas de: atividades individuais para atividades coletivas; saberes individuais que possam valorizar as habilidades das crianças; metodologias e processos avaliativos que não considerem o contexto processual; processos de individualização que criam rotinas que isolam os indivíduos considerados diferentes, para aquelas rotinas que mantenham as crianças unidas; experiências entre familiares e profissionais da saúde e educação para falar sobre diferentes fazeres; limitação da participação comunitária da escola, pelas portas abertas para fazeres dessa comunidade no seu entorno; alteração da palavra limitação por habilidade; ação de igualdade para a ação da equidade, que dá condições para que o alcance chegue a todos; dúvida no acolhimento do aluno, para o pertencimento das diferenças na potência na escola.
Resultado do Trabalho de Conclusão de Curso de Byanca Oruê Vieira dos Santos e Jéssica Caroline da Silva, formadas no curso de Terapia Ocupacional, com orientação do professor Rafael Eras Garcia (rafael.garcia@prof.uniso.br)