O dólar abaixo dos R$ 5
O preço do dólar também recuou diante das demais moedas fortes porque o Fed vem acenando para a desaceleração da alta dos juros
O otimismo recente não melhorou a foto da economia brasileira, que continua ruim. No entanto, contra essa maré, a cotação do dólar caiu mais de 6% neste ano. Até onde vai esse período de valorização do real?
No fechamento do câmbio de quinta-feira (13), o dólar ficou nos R$ 4,92, a cotação mais baixa desde junho de 2022. Os movimentos do câmbio sempre foram um desafio para os especialistas. Mas há explicações para essa baixa acentuada.
À primeira vista, juros substancialmente mais altos no mercado interno em relação aos do exterior, como hoje, tendem a atrair mais recursos, que procuram aproveitar melhores retornos nas aplicações em reais. Assim, pelo efeito da lei da oferta e da procura, caem os preços da moeda estrangeira em reais. Mas há alguns meses, quando a diferença entre juros internos e externos era maior, a entrada de moeda estrangeira não era tão acentuada como agora.
Nas últimas semanas, passaram a atuar dois fatores independentes entre si. O primeiro tem a ver com certa melhora da questão fiscal que afugentava capitais em vez de atrair. O encaminhamento do arcabouço, embora não plenamente satisfatório, apontou para mais equilíbrio do que a situação anterior e ajudou a reverter o fluxo negativo.
O outro fator está relacionado com a perspectiva de baixa futura dos juros básicos (Selic). O recuo da inflação e a divulgação do próprio arcabouço fiscal sugerem que o Banco Central volte a afrouxar sua política. Como mantêm no exterior polpudos depósitos em dólares -- que ninguém sabe de quanto são --, muitos exportadores parecem ter iniciado o repatriamento desses recursos para aproveitar os juros altos por aqui e ajudaram a derrubar as cotações.
Não dá para desdenhar os fatores externos. O preço do dólar também recuou diante das demais moedas fortes porque o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) vem acenando para a desaceleração da alta dos juros. Ao mesmo tempo, a percepção geral de que as autoridades controlaram a crise bancária desencadeada pela quebra do Silicon Valley levou os senhores do capital a sair da toca do dólar em que se refugiaram e a correr mais risco.
Os analistas consultados pelo Banco Central por meio do Boletim Focus apostam que, no fim do ano, o dólar estará valendo R$ 5,25. Não dá para encontrar firmeza nessa projeção porque as incertezas externas e internas continuam fortes.
Sabe-se lá para onde vão a inflação global e os preços do petróleo. E, no âmbito interno, não dá para saber qual será a atitude do Congresso em relação à reforma tributária e à política econômica do governo Lula. E o futuro da moeda estrangeira depende muito desses fatores.
Celso Ming é comentarista de economia