Os Assuntos da 60ª Assembleia Geral da CNBB
A transmissão da fé deve levar em conta a realidade social e eclesial atual; ela é celebrada e professada
Quais foram os assuntos tratados na 60ª Assembleia geral da CNBB?
Antes de responder a essa pergunta é preciso entender o que é a Conferência Episcopal e o que ela faz. A CNBB é uma forma concreta de atuação do espírito colegial. Através da Conferência, os bispos exercem conjuntamente o ministério episcopal em benefício dos fiéis do Brasil. Assim, a Assembleia tem como objetivo exprimir concretamente a dimensão colegial do ministério episcopal. Todos os temas da Assembleia da CNBB são tratados, portanto, nesse clima de espírito colegial.
Um dos primeiros temas da Assembleia foi o relatório quadrienal da Presidência da CNBB. Depois passamos para as análises da conjuntura social e eclesial. Essas análises são fruto de um trabalho permanente e de uma pesquisa sociológica e eclesial da realidade brasileira onde se dá a ação evangelizadora da Igreja. As duas análises não são pronunciamentos magisteriais, mas uma motivação para o estudo, reflexão e debate do episcopado.
Tema de destaque foi a Tradução do Missal Romano 3ª edição que exigiu do episcopado brasileiro um trabalho de 19 anos. Tendo recebido a aprovação do Dicastério para a Liturgia e Disciplina dos Sacramentos, os textos litúrgicos da tradução brasileira da Terceira Edição Típica do Missal Romano serão facultativos até o primeiro domingo do Advento de 2023, tornando-se obrigatórios a partir dessa data. Até lá o episcopado deverá atuar na recepção do Missal Romano. Um passo para a recepção da nova tradução é o aprimoramento da arte de celebrar, no reconhecimento de que a Liturgia não é um conjunto de rubricas a serem observadas, mas um evento de salvação: o rito é “ação comum de Cristo e da Igreja a ser celebrada”. Nesse sentido, a Carta Apostólica Desiderio Desideravi (DD) será muito importante.
Depois desse tema, o episcopado se voltou para os temas propostos pela Comissão de Doutrina e Fé: “A fé em Cristo no Contexto da Mudança de Época”, “A Missão do Bispo como Pai na Fé”, “Luzes e Sombras em Relação à Vida de Fé de nossos Fiéis”, “Desafios que Exigem a Atenção e a Vigilância dos Bispos”. Missão da Igreja e dos Bispos é, com efeito, a transmissão da Fé. Por isso nada mais adequado do que iniciar a Assembleia com tais temas.
Em seguida, a Assembleia aprovou o Regimento da CNBB que apresentou algumas novidades: a inclusão de três novos órgãos que são: 1. Assessoria política da CNBB; 2. Comitê gestor que atua junto ao Economato; 3. Bispos eméritos.
Foram apresentados os relatórios de várias comissões e de eventos da Igreja no Brasil: o Congresso Eucarístico Nacional, a preparação do jubileu de 2025, o Sínodo de 2023, a Campanha da Fraternidade, o Fundo Nacional de Solidariedade, o Fundo “Comunhão e Partilha”, Caritas Brasileira, a Comissão Especial para a Amazônia, a Comissão Especial para Ecologia e Mineração, a Jornada Mundial da Juventude, o Projeto Nacional para Pastoral Juvenil, as Pastorais sociais, a Comissão para a Causa dos Santos e Santas do Brasil. Essa grande variedade de assuntos não dispersou o caminho do exercício da colegialidade. Ao contrário, o enriqueceu e o aprofundou.
Tratamos também de temas administrativos e internos ao funcionamento da CNBB. Foram apresentados e discutidos relatórios detalhados de prestação de contas e da gestão da Sede CNBB, Edições CNBB, Vila Venturosa e Colégio Pio Brasileiro em Roma. Economia e evangelização, gestão e fé não se contrapõem, antes se reclamam reciprocamente. Uma economia sem fé se desumaniza, e uma evangelização sem recursos econômicos corre o risco da paralisia.
Tema difícil e desafiador foi o da saúde integral do clero. Tratamos com grande dor e seriedade os casos de suicídios de padres dos últimos dois anos.
Tantos temas podem dar a impressão errada de dispersão e de acúmulo de assuntos. Na realidade, há uma profunda convergência entre todos os temas: a transmissão da fé deve levar em conta a realidade social e eclesial atual; ela é celebrada e professada. A transmissão da fé é o que está na base de todos os serviços e iniciativas realizadas pela Igreja no Brasil; e é pelo testemunho de uma fé vivida na partilha, comunhão e solidariedade que pode ser melhor transmitida.
Dom Julio Endi Akamine é arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba