As bancas do Mercado Municipal de Sorocaba

O comércio do Mercado Municipal continua, mas segundo as famílias dos antigos proprietários, como a professora Cida, há necessidade de revitalização

Por Cruzeiro do Sul

 

Uma volta aos anos 60, no Mercado Municipal de Sorocaba, leva os sorocabanos ao passado... nos tempos em que não havia supermercados na cidade. As compras de verduras e cereais eram feitas principalmente nos finais de semana, pelas donas de casa. Com a chegada dos grandes hipermercados em todos os bairros, houve queda de vendas e fechamento de bancas tradicionais no mercado.

O comércio do Mercado Municipal continua, mas segundo as famílias dos antigos proprietários, como a professora Cida, há necessidade de revitalização do espaço. Enquanto isso não acontece, a esposa do saudoso José Martinez, que tinha uma das bancas mais tradicionais do Mercado Municipal, continua a sua vida, como professora aposentada, recebendo os seus mantimentos em casa pelo delivery dos supermercados.

José Martinez foi um jovem que aprendeu a ser comerciante na banca da dona Paca, no Mercado Municipal. Graças ao negócio de cereais, ele se tornou, anos depois, proprietário da Banca do Martinez. Na época, as vendas da banca e o salário da professora Cida contribuíram para que pudessem planejar o futuro.
A professora aposentada Maria Apparecida Gambarcotta Martinez lecionou durante 26 anos em Votorantim e cinco anos em Sorocaba. Outras cidades, como Boituva e Sarapuí, fizeram parte na missão de educadora da “dona Cida”.

Ela nasceu em 1931, na casa da tradicional família sorocabana Gambacortta, na rua Moreira Cesar. Filha de Mariana Mastrandea Gambacortta e de Eduardo Utten Gambacortta, Cida, quando criança, foi estudar o primário no Grupo Escolar Antônio Padilha. Além de participar das aulas, ela ficava olhando com admiração as professoras que a ensinavam. Na cabecinha da menina Maria Apparecida, aprender e sonhar em ser como as professoras era uma questão de tempo. Foi assim que seguiu estudando no ginasial até conquistar o diploma de professora no curso Normal do Instituto de Educação Julio Prestes de Albuquerque (Estadão).

A história da jovem Maria Apparecida teve uma mudança radical nos seus 15 anos de idade. Naquela época do Carnaval de 1946, o Clube Independência concentrava a juventude para os bailes. Ela, hoje com 91 anos, conta sobre os bailes de Carnaval no Clube Independência, onde as moças e moços se divertiam e buscavam encontrar um namorado. Depois dos chamados “flertes” daquela época, o jovem José Martinez, se encantou pela beleza da Maria Apparecida. As músicas de carnaval nos anos quarenta entoavam as marchinhas “Ô, abre alas”, de Chiquinha Gonzaga, “Mamãe eu quero”, de Vicente Paiva e Jararaca, “Aurora”, de Mário Lago e Roberto Ruberti.

Foi numa dessas melodias que o namoro alegrou o coração da foliã Maria e do folião José Martinez. Depois do namoro e aprovação das famílias Gambacortta e Martinez, a decisão do casamento de Maria, com 25 anos e, do José, com 32 anos, aconteceu no Cartório Civil, em 26 de janeiro de 1957 e, na Igreja Católica, dia 27. Esses atos solenes selaram com amor o sim do casal no altar, com as bênçãos do sacerdote.

Para planejar a família e perpetuar as suas gerações, Maria Apparecida e José Martinez tiveram três filhos. O filho José Eduardo Martinez, hoje médico e as gêmeas, Maria Isabel e Teresa Cristina.

Para aumentar os rendimentos, a professora Maria Gambacortta adaptou um quarto da casa em sala de aula, onde os alunos, como Flávio Chaves e Paulo Valter Leme dos Santos, que precisavam de reforço escolar para fazer os exames de admissão ao ginásio, recebiam aulas particulares. A sua casa, na rua Padre Manoel da Nóbrega, no bairro Vergueiro, era um cursinho, de segunda a sexta-feira, no período da tarde.

Em 2007, o casal celebrou 50 anos de casamento. Três meses depois, José Martinez faleceu. A banca do Mercado foi vendida, porque não houve interesse da família em continuar com o negócio.

No dia da nossa entrevista, Maria Isabel e Teresa Cristina acompanharam com a mãe o relato das suas lembranças de vida. Dona Cida é uma leitora do jornal Cruzeiro do Sul há mais de 70 anos e fica aguardando as terças-feiras para ler o artigo da sua vida.

Viajar pelo Brasil e exterior sempre foi um dos hobbies preferidos do casal e filhos. As lembrancinhas dos países e cidades que já conheceram fazem parte da coleção de mimos na sala da casa da professora Cida. Viúva desde abril de 2007, ela e suas filhas Maria Isabel e Teresa Cristina com as suas duas cachorrinhas não perdem a oportunidade de aproveitar os finais de semana para descer a serra rumo a Santos. Foi o que fizeram no dia seguinte a esta entrevista.

Vanderlei Testa (artigovanderleitesta@gmail.com) é jornalista e publicitário e escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul