Doces espanhóis na festa da Dionísia com Sidney Magal

Uma receita espanhola que fazia sucesso era a ‘miga‘, que tinha como ingrediente, o pão comprado na ‘Padaria da Lua‘

Por Cruzeiro do Sul

 

Quem nunca deu uma escapadinha dos olhos da mãe para comer aquele doce gostoso que ela fez? Principalmente, antes do almoço. A saudosa Dionísia Calvo Peres, filha dos espanhóis Carmem e Santiago, tinha uma habilidade gastronômica para fazer doces e quitutes. A sua vocação de esposa dedicada ao marido, João Peres, e mãe zelosa dos três filhos, José Santiago, João Willian e Marise, era nitidamente percebida nos pratos das refeições em família. Dionísia está na memória e afeto de José Santiago, que contou sobre as delícias dos doces típicos espanhóis que experimentava da mãe. A mesma sensibilidade brota do coração da Marise Peres Pereira, suspirando de emoção, ao relembrar da sua progenitora, na cozinha, preparando as receitas dos imigrantes espanhóis.

Nossas memórias e afeto estão ligados às comidas que nossas mães preparavam no almoço em família, os lanches da escola e até as mamadeiras. Os doces vêm à tona nas sobremesas da vovó, como no caso da dona Carmem Ramires, que herdou de seus pais a tradição gastronômica de sua cidade natal, na Espanha, e repassou às suas três filhas, Dionísia, Floripe e Irene.

Aquelas escapadelas dos filhos e irmãos de Dionísia, ou ‘Nísia‘, como o marido João a chamava, para saborear os deliciosos doces de coco, mamão verde cortado em tiras, e amarrados com barbante, ainda permanecem vivos em décadas de lembranças dos seus descendentes.

A menina Dionísia nasceu em 1926 e foi a primeira de nove irmãos. Cresceu aprendendo, em casa, a gastronomia caseira que tinha o sabor inconfundível do tempero da mamãe Carmem, cozinheira da prole de filhos Calvo Ramires, que moravam na casa da Avenida São Paulo 727. A bronquite - que atrapalhava a sua saúde - não foi empecilho para Dionísia se casar com 19 anos de idade. O jovem João Peres a conquistou com amor e afeto. Ele tinha 22 anos e, desde os 12 anos, trabalhava com mecânica de veículos. Em 12 de agosto de 1949 fundou a Auto Mecânica Sorocaba.

Sempre cuidadosa com a sua aparência física, Dionísia era a jovem filha de espanhóis que preservava a sua beleza com alimentação orientada pelos pais. Um exemplo dessa atitude é relatado pela filha Marise, que recorda do pai, que trabalhava com tratores comercializados nos sítios, e presenciava como os agrotóxicos eram colocados nas plantações de tomate. Em casa, João Peres exigia que a esposa Dionísia retirasse toda a pele dos tomates para preparar os molhos e saladas. Os doces de abóbora, caprichosamente cozidos com cal, davam a textura crocante ao doce consumido na casa.

Uma receita espanhola que fazia sucesso era a ‘miga‘, que tinha como ingrediente, o pão comprado na ‘Padaria da Lua‘ misturado com ovos caipiras. Entre outras iguarias, o Montecau, a Cufa e o Sequilho estavam sempre à mesa. Pratos deliciosos preparados pelas mãos da Dionísia, imperdíveis como receitas espanholas da encantadora avó e da amiga Carmem que trabalhou durante 40 anos em sua casa. A ‘Paella‘ da Dionísia exigia o uso de 30 limões vermelhos, o doce de leite empanado na sobremesa e o quibe, assado em gordura de carneiro, só perdiam para o cabrito com vinho e a torta de nozes da matriarca Dionísia.

Entre as atividades da mãe, a Marise destaca os treinos de vôlei que Dionísia fazia na Associação Cristã de Moços - ACM, para manter a sua estética com as amigas que a acompanhavam nos chás da tarde.

Entre os artistas preferidos da Dionísia, o cantor Sidney Magal ocupava lugar de destaque. Ela adorava vê-lo em suas apresentações, na televisão, com as danças e performances que lembravam os dançarinos espanhóis. Quando completou 80 e 90 anos de idade, os filhos prepararam uma surpresa à mãe, contratando o cantor Magal para a sua festa. Um show especialmente dedicado a ela e seus convidados no Clube de Campo Sorocaba. Foram dois aniversários registrados em som e imagem que, ainda hoje, são relembrados pela família Peres.

A rica culinária traz à memória de Marise a lembrança das viagens, pois cada país tem suas cores, amores e sabores. Na Espanha, não poderia ser diferente! Uma nação de cultura vibrante, cuja gastronomia é parte fundamental, seja na confeitaria ou preciosidades típicas de cada região. Dionísia viajou por toda a Espanha com a família e aproveitou, em seus 91 anos de vida, para experimentar com sabedoria o dom que Deus lhe deu de ser a irmã, filha, esposa, mãe, avó e bisavó que todos que a conheceram e a enaltecem como ‘la reina de la casa‘ (Rainha do lar).

Vanderlei Testa (artigovanderleitesta@gmail.com) Jornalista e Publicitário escreve as terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul