O Drex, moeda digital oficial

Quando as criptomoedas passaram a se multiplicar ao redor do mundo, os bancos centrais começaram a temer pela perda do seu monopólio

Por Cruzeiro do Sul

 

O Banco Central anunciou, nesta segunda-feira, a criação do Drex, a versão digital da moeda soberana, que terá o mesmo valor do real, da qual se espera que facilite as movimentações.

Não se sabe ainda até que ponto a novidade vai reduzir os custos dos pagamentos e das transferências para as pessoas comuns nem como na prática vai funcionar. Fica mais fácil entender para que serve quando se lembram os precedentes e as mais importantes motivações das autoridades monetárias.

Certos tipos de moeda digital existem há muitos anos para determinados usos.

Os pontos de milhagem (esquemas de fidelidade), por exemplo, apareceram como meio de pagamento de milhas de transporte aéreo e depois passaram a ser usados para compra de outros bens. O cartão de crédito não deixa de ser uma forma de moeda digital. Os saldos bancários são contábeis, portanto digitais. O Pix é a mais recente experiência de sucesso local, destinada a ser importante instrumento de transferências instantâneas.

Mais recentemente apareceram moedas digitais de administração privada, as criptomoedas, como o bitcoin, o ethereum e mil outras que a elas se seguiram. Em janeiro de 2017, o valor de mercado das criptomoedas estava estimado em US$ 18 bilhões. Agora, está em US$ 1,2 trilhão.

Quando as criptomoedas passaram a se multiplicar ao redor do mundo, os bancos centrais começaram a temer pela perda do seu monopólio de criação de moeda e pela apropriação privada do que se chama senhoriagem, que é a receita obtida com a emissão de moeda. Outro risco seria o de que, em caso de crise de confiança, os reguladores não teriam como intervir nesse sistema paralelo.

Também motivou essa iniciativa a necessidade de coibir a lavagem de dinheiro e a utilização de meios de pagamento para fins ilícitos propiciadas por meio desses criptoativos.

Foi por isso que as autoridades monetárias em todo o mundo começaram a preparar o lançamento de moedas digitais que levam o nome comum de Moeda Digital de Banco Central (CBDC, na sigla em inglês). Atualmente, 130 países estão desenvolvendo suas CBDCs.

Para que uma moeda digital seja possível é preciso antes que funcione uma central altamente confiável de registro e de compensação entre contas, que determine em tempo real os envolvidos na transação. No caso do bitcoin, o sistema altamente confiável, à prova de invasões cibernéticas, que se encarregou de registrar as operações foi a plataforma blockchain. A mesma que será utilizada no Drex.

O Banco Central garante que as operações serão totalmente sigilosas. Se for assim, o outro objetivo que apressou a iniciativa em todo o mundo, o de coibir sonegações e atividades criminosas, não poderá ser cumprido como imaginado.

Não está inteiramente claro como o real digital vai funcionar. O ambiente está sendo testado e pode operar normalmente entre pessoas físicas e empresas em cerca de dois anos.

Celso Ming é comentarista de economia