A chegada dos mestres sapateiros ao Brasil

Por Cruzeiro do Sul

 

A chegada dos imigrantes italianos e espanhóis em Sorocaba nos anos de 1880 trouxe nas bagagens de vida das pessoas a experiência profissional das atividades praticadas nas suas cidades de origem. Uma profissão artesanal que ultrapassa os séculos e está presente em 2023 e, com certeza no futuro, é a de sapateiro. Os calçados mudaram muito de estilo e tipos de materiais usados na sua produção. Couros, peles, tecidos, plásticos, lonas e sintéticos coloridos, fazem parte dessa história dos sapateiros. Em 19 de abril de 2022 escrevi um artigo a respeito dos sapateiros de Sorocaba. Um dos leitores do jornal Cruzeiro do Sul, Fernando Napoli Bonnani fez pesquisas sobre a sua família e constatou a presença na história dos mestres sapateiros no Brasil, do seu bisavô, Giovani Bonnani--- nome registrado no cartório, pois o seu verdadeiro nome italiano era em dialeto não entendido pelo cartorário. Giovani desembarcou no “vapor Brenerre”, vindo da Província da Genova, Itália, para o porto do Rio de Janeiro, em 10 de dezembro de 1885.

A documentação que o bisneto Fernando pesquisou no Brasil comprova também que os seus tataravôs italianos eram mestres sapateiros na Itália. Do Rio para a cidade de Santos e de lá para a colônia italiana em Tietê, na Região Metropolitana de Sorocaba, Giovanni acabou por fixar residência e se casar com Maria Luigia Dal Pos. Formaram uma família e, posteriormente, os seus descendentes seguiram a vocação de sapateiros, como foram os casos do avô e do pai do Fernando. A origem da tradição de chegar ao título de mestre sapateiro remonta a 1873, na Itália. No Brasil, teve início em 1885, com os imigrantes italianos vindos para trabalhar na agricultura do café e em profissões aprendidas na Itália.

Uma oficina de sapataria na rua Quinzinho de Barros -- bairro do Além Ponte -- tinha como mestre na arte dos sapatos o bisneto de Giovanni, Eliezer Bonnani, filho de João Firmo e irmão do leitor Fernando. O mais antigo sapateiro de Sorocaba é, portanto, o bisavô do Fernando Bonnani e do Eliezer, acolhido no Brasil, em 1885, entre os imigrantes italianos. Os registros nos documentos primários da pesquisa do leitor citam o ano de 1873 como marco inicial do primeiro sapateiro no País. O bisavô Giovani Bonnani tem o seu registro nessa profissão de mestre sapateiro em 1884, período em que atendeu o Antônio Pereira Inácio, permanecendo até 1892 com essa responsabilidade de ser o seu mestre sapateiro oficial.

Fernando Bonnani pesquisou registros históricos e primários, que constam do Arquivo Nacional, Arquivo Público do Estado de São Paulo, jornal Correio Paulistano da época e registros civis. “Tenho cópias de todos os documentos, afirmou. O meu bisavô era mestre sapateiro em Sorocaba, na antiga rua do Hospital, atual, rua Dr. Álvaro Soares”, contou Fernando. “Estou inclusive viabilizando junto ao Grupo Votorantim -- grupo em que já trabalhei -- uma parceria cultural sobre as informações biográficas do Antônio Pereira Inácio”.

A documentação existente nos arquivos das bibliotecas de Sorocaba atestam, em livros do historiador Aluísio de Almeida -- monsenhor Castanho --, muitas informações sobre os primeiros sapateiros na cidade de Sorocaba. Ao comparar essas citações dos historiadores da cidade, Fernando questiona o que vem sendo divulgado, como a profissão de sapateiros em Sorocaba registrada inicialmente na cidade nos anos de 1940. “A história do meu bisavô Giovani Bonnani comprova que desde a sua vinda, nos anos de 1885, como ficou registrado na certidão de desembarque no Brasil e na sua certidão de óbito do cartório de Sorocaba, a profissão de mestre sapateiro que ele exerceu enquanto trabalhou na cidade. Ele foi o primeiro sapateiro de Sorocaba”.

Posteriormente, o filho do Giovani, Duílio Bonnani, nascido em 1904, também se especializou como sapateiro, atendendo na oficina da rua Álvaro Soares, onde morou. Já o bisavô, Giovani, era morador da rua da Penha. Ele tinha uma pequena fábrica de sapatos, comercializando os calçados na região e em Tietê, onde morou.

Vanderlei Testa é jornalista e publicitário; escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul- e-mail: artigovanderleitesta@gmail.com