20 anos sem José Aleixo Irmão
Aleixo Irmão nos ensinou que o ser humano deve ter ao menos duas virtudes: gratidão e humildade
Enxergamos de nossa janela, abrindo-a no ano de 1913 em 7 de março, na cidade de Nuporanga, no chapadão alindado nasce José Aleixo Irmão. Os seus pais, Francisco Aleixo de Oliveira e a Sra. Anna Cezarina de Paula (Dona Sinhaninha), já haviam tido cinco filhos: José, Antônio, João, Joaquim e Ana (Anita). Antenor Machado foi seu professor particular, onde aprendeu na Cartilha de Thomaz Galhardo suas primeiras lições, vindo a frequentar as Escolas Reunidas de Nuporanga. Cursou o secundário na cidade de Batatais, no Colégio São José, dos padres claretianos.
Vai para São Paulo fazer o vestibular, no entanto, os amigos convenceram-no a ir estudar no Rio de Janeiro, então fecha as malas na pensãozinha paulistana, manda um bilhete para o pai dizendo: “Sigo para o Rio de Janeiro, aguarde endereço”.
Participou da Revolução de 1932, indo aos comícios em Nuporanga, ao lado do grande jurista José Frederico Marques e outros, pugnando pela arregimentação de conterrâneos voluntários. Com este grupo foi para o batalhão Arquidiocesano, tendo participado de lutas em São Luiz do Paraitinga. Também foi sentinela em Paranhos, no alto da serra, guarnecendo os caminhos de Ubatuba, Lagoinha e Cunha, sob o comando do coronel Euclides Figueiredo.
A partir de 1937, começou a advogar na cidade de Santa Rita do Passa Quatro. Na cidade foi presidente do Tiro de Guerra 295, diretor do Ginásio Municipal, participou da elaboração do Código Municipal, da criação da Escola Normal, além de colaborador e redator do jornal Folha de Santa Rita. Foi presidente do Rotary Clube local e prefeito municipal por três dias (04/05/1947 a 07/05/1947), por votação da Câmara Municipal.
Casou-se em primeiras núpcias em 08/09/1938, com a Sra. Maria José de Lima Aleixo, advindo os filhos: Rosemarie, Paulo José Roberto e Margaret Rose.
Ingressa no Ministério Público de São Paulo em São José do Rio Pardo. Lá toma conhecimento da obra monumental de Euclides da Cunha. Aleixo já havia feito duas investidas para ler “Os Sertões” e recuou. No entanto, começa a conhecê-lo por meio de palestras e conferências realizadas na cidade.
Em 8 de fevereiro de 1958 vem para a “Terra Rasgada” de Baltazar Fernandes. Logo atuou no Tribunal do Júri em vários casos, mas o mais marcante, segundo ele, foi o de Edna Colli, casada com um funcionário da Estamparia, que estava sendo acusada de ter matado o marido enquanto ele dormia, à véspera do Ano Novo. No dizer de Aleixo: “...foi um júri espetacular, debati com o grande advogado Hélio Rosa Baldy, da primeira vez ela conseguiu ser absolvida, recorri, e no segundo júri Edna foi condenada. O interessante é que passados três meses, ela foi agraciada com o indulto do presidente da República”.
Fez parte da comissão que edificou o prédio da Faculdade de Direito de Sorocaba, foi membro do Conselho Redatorial do jornal Cruzeiro do Sul. Membro fundador, junto com Mário Cândido de Oliveira Gomes e Paulo Breda Filho, do jornal Perseverança. Colaborou no primeiro número da Revista Jurídica, da Fadi, a “Nossa de Direito”.
Aleixo foi um dos fundadores da Academia Sorocabana de Letras, seu primeiro presidente e presidente de honra, ocupando a cadeira de n° 1 e instituindo coimo seu patrono Euclydes da Cunha. No seu discurso de fundação disse: “Fundar uma academia é uma temeridade. ... A Academia passará por momentos difíceis, que a tornarão maior na ingratidão de muitos”.
Dr. Aleixo, aposentou-se como promotor público em 28 de setembro de 1968. Professor, Aleixo lecionou Economia, como assistente do professor José Pereira Cardoso, na Fadi, Sobre esta época disse: “Eu não fui professor, fui o aluno mais velho. De fato, rendo homenagem aos ex-alunos. Em quinze anos lecionando nunca sofri o menor vexame. Gostava muito deles e me revia em cada um, como o estudante de Direito no Rio de Janeiro”.
Começa sua vida maçônica na Loja Maçônica Perseverança III, em 3 de junho de 1961. No dia 31 de julho de 1964, Aleixo Irmão e mais 20 maçons da Perseverança III instituíram a Fundação Ubaldino do Amaral (FUA), a fim de comprar o jornal Cruzeiro do Sul. Em entrevista disse: “O Laelso me faz evocar uma fase muito feliz da minha vida, um companheirismo inigualável. E este companheirismo começou quando eu entrei para a Loja Perseverança III. Ai aprendi a ser desprendido, despir-me do egoísmo próprio do ser humano para me dedicar a todos, a esta coletividade democrática que é a maçonaria. Eu me recordo muito bem daquela noite saudosa em que lançamos as bases desta entidade fabulosa que hoje se apresenta com altaneria na constelação jornalística do País. Não é exagero falar do País e como disse na sessão de hoje, conversando particularmente com vocês, quem te viu quem te vê jornal Cruzeiro do Sul, nós pegamos a empreitada de tocarmos o Cruzeiro do Sul porque Hélio de Freitas iria vender as suas máquinas picadas em São Paulo e assim desapareceria este jornal.”
Aleixo foi convidado a escrever o primeiro volume da história da Loja, pois Paulo Breda Filho, providenciando as festividades do seu centenário, afirmou que precisavam iniciar a publicação sobre a Perseverança III. Assim, em 1969 foi lançado o primeiro volume de seis, que Aleixo chamava de “tijolo”, por conta do seu peso. Jorge Senger, durante um jantar na casa de Laelso Rodrigues, convida Aleixo a continuar escrevendo a história da Perseverança III. Assim, retornou com o serviço com muito carinho. Nesses seis volumes encontramos o elo comum de trabalho entre a instituição maçônica e a cidade”.
Em 27/01/1971, Aleixo casa-se com a Sra. Mercedes Rossi Aleixo. Desde então, sempre fez questão de externar a todos a sua admiração e gratidão por ela. Mercedes foi o esteio para sua vida, proporcionando tranquilidade e segurança, foi a escrava e a dona do seu coração, o anjo e o amor.
Foi convidado a fazer parte do Instituto Histórico Geográfico e Genealógico de Sorocaba em 09/01/1975.
Sobre Aleixo, Câmara Cascudo folclorista reconhecido internacionalmente, comentou em seu livro “Enxergo de minha janela”: “... via e clara comunicação de ternura e vivência lírica. Em prosa ou em verso, a sensibilidade criadora consegue uma irradiação de graça afetuosa, delicadeza íntima, revelação de poeta que não se desencantou na poeira dos dias”. Aluísio de Almeida disse numa oportunidade: “É agradável de ler, aprendi muito, e fiquei amando ainda mais a memória daquele grande amigo, que conheci em 1924”.
Aleixo Irmão nos ensinou que o ser humano deve ter ao menos duas virtudes: gratidão e humildade, para assim ser feliz e fazer os outros felizes. Uma vez, perguntado sobre qual mensagem deixaria para os jovens, respondeu: “A mensagem que possa dar é: estudar, estudar, só o estudo e correspondendo o trabalho mostra o caminho verdadeiro para o homem”.
Reverenciamos a memória de José Aleixo Irmão, que, na limitação dos dias de sua vida terrena, falecendo no dia 28/09/2003, transitou para a eternidade com a marca indefectível da imortalidade, dado que o homem somente morre, quando é esquecido ou quando sua vida e suas realizações caem, efetivamente, no esquecimento.
Carlos Pinto Neto é membro da Academia Sorocabana de Letras e neto de José Aleixo Irmão