Youtube: Maria Bopp sobre a mulher
Maria Bopp é uma conhecida influenciadora das redes sociais que mantém o “site” “Blogueirinha do fim do mundo”. Esta “live” de Maria Bopp intitulada “Mulheres guerreiras e empoderadas: parabéns pra nós” foi gravada para o mês da mulher em março de 2021, em plena pandemia da Covid 19. O vídeo está disponível em https://encurtador.com.br/hrsM5. Sugiro que assistam à versão de 3:25 minutos
O que caracteriza os vídeos de Maria Bopp é a ironia. Neste, ela trata seriamente da “reprodução social” e, ao mesmo tempo, faz uma crítica sarcástica ao chamado “feminismo liberal”.
Para escrever sobre esses dois conceitos, usarei como fonte o livro “Feminismo para os 99% - um manifesto”, das norte-americanas Cinzia Arruzza, Tithi Bhattacharya e Nancy Fraser, já citado nesta coluna.
Para as autoras, “reprodução social” compreende atividades individuais e coletivas da classe trabalhadora (alfabetização, preparação profissional, emocional etc.), bem como uma série de tarefas, geralmente privatizadas no lar e não remuneradas: maternidade (gestação, parto, lactação, cuidado das crianças), cuidado com doentes e idosos, limpeza etc. O capitalismo, escrevem as autoras, não se ocupa do trabalho de reprodução social, apenas o despeja sobre as mulheres, as comunidades e os Estados. Afirmam as autoras: “Enquanto o neoliberalismo exige mais horas de trabalho remunerado por unidade familiar e menos suporte estatal à assistência social, ele pressiona até o limite famílias, comunidades e (acima de tudo) mulheres”. A “reprodução social” é o ponto crucial das lutas feministas. A necessidade dessa luta pode ser visualizada no caso da baixa qualidade do ensino básico patrocinado gratuitamente pelo Estado brasileiro e na alta qualidade do ensino privado, de custo impossível de ser arcado pela esmagadora maioria da população. O resultado dessa política educacional economicamente seletiva é acentuar a desigualdade econômica. Nesse cenário social, não tem sentido falar em meritocracia e empreendedorismo e divulgar o conceito de que o indivíduo é o culpado por sua precária condição econômica.
As autoras definem “feminismo neoliberal” como o que leva mulheres a se contentar com melhores cargos no mercado de trabalho e ignoram as restrições socioeconômicas que tornam a liberdade e o empoderamento impossíveis para a grande maioria de mulheres. A astúcia neoliberal, escrevem, consiste em colocar em altos cargos algumas poucas mulheres para servir de argumento de que não há desigualdade de gênero no neoliberalismo. O mesmo ardil é empregado na publicidade e nos filmes em que lindas mulheres são poderosas, determinadas. Por isso, as autoras consideram o feminismo liberal o grande inimigo a ser combatido, porque se amoldam ao neoliberalismo e ignoram as aspirações da vasta maioria das mulheres e homens que integra o grupo dos 99%.
O vídeo de Maria Bopp ilustra o que seja reprodução social, expondo-a com seriedade, alternando-a com uma paródia do feminismo liberal. Este é representado por mulheres lindas e vencedoras que atuem na publicidade de produtos de beleza, limpeza e higiene -- produtos que prometem a solução dos problemas sociais das mulheres. Por exemplo, a sobrecarga das 12 milhões de mães solo no Brasil deve ser celebrada com o uso do perfume “Mother blessing” (Bênção materna).
Esta série de artigos está incluída no projeto Cine Reflexão da Fundec