Rescaldos do Pisa (parte 1)
Os frutos desta safra são resultados de um plantio mal planejado
Neste domingo, vamos refletir sobre o Pisa -- sigla inglesa para Programa Internacional de Avaliação de Estudantes -- no qual o Brasil ficou, novamente, entre os últimos classificados, de um total de 81 países participantes. O exame, realizado a cada três anos, avalia o desempenho de alunos com 15 anos de idade em: matemática, ciências e leitura. Infelizmente, a fraca participação dos nossos jovens já era esperada por muitos educadores, pois é nítida a percepção de que uma grande parte do corpo discente tem outros interesses que passam longe dos bancos escolares. Ou seja, vão à escola por mera obrigação.
Porém, toda vez que os resultados são anunciados, o gestores da educação pública se mostram surpresos e tentam encontrar um “vilão” para justificar tal dano. Desta vez, o governo, rapidamente, deu uma resposta à sociedade: anunciou o fim dos cursos de licenciatura 100% à distância. A medida é boa, pois visa sanar um problema que há décadas se arrasta, sem perspectiva de solução. Entra governo, sai governo, o quadro só se agrava. No entanto, o EaD é a pontinha do iceberg de uma questão que precisa ser analisada sob a luz da lógica, desprovida de paixões e com a participação da sociedade.
Numa coisa todos concordam: a questão é complexa porque a sociedade brasileira é complexa. Logo, não se resolve tamanho imbróglio com decisões abruptas, também não se pode atribuir tal fracasso à pandemia, como alguns supõem. Aliás, esse discurso não cola, porque o desempenho estudantil já vinha dando sinais de que algo está errado no sistema educacional antes mesmo do isolamento social. Claro que a Covid-19 agravou a situação, pois muitos ficaram distantes do conteúdo escolar, já que nem todos tiveram acesso às aulas digitais disponibilizadas pelo MEC.
Inconformada, a sociedade indaga: mas, qual a origem do problema? Na há resposta específica, mas uma sequência de equívocos. Os frutos desta safra são resultados de um plantio mal planejado, com uma série iniciativas que não deram certo e que foram abandonadas pelo caminho, como se os alunos fossem “cobaias” de experiências que lesam um setor responsável pela formação do cidadão.
Assim, torna-se necessária a continuidade de projetos coesos pautados na Base Nacional Comum Curricular. Mas, a cada novo governo, mudanças são feitas. Muitas delas, sem ouvir o público-alvo: professores e alunos. Como exemplo, temos o novo ensino médio que, basicamente, foi imposto às escolas (públicas e privadas); mas que, no fundo, tornou-se o tal “mais do mesmo”, pois a falta de infraestrutura de muitas escolas comprometeu a iniciativa. Assim, o MEC decidiu revisar o projeto.
Aliado a tudo isso, temos o lamentável uso do celular em sala de aula, que se transformou num grande desafio para os educadores, já que esses aparelhos dispersam a concentração dos estudantes. Especialistas britânicos alertam que essa prática é prejudicial ao aprendizado. Por isso, a Inglaterra passou a proibir tal uso. Outros países europeus também adotaram tal medida. No Brasil, alguns colégios particulares só liberam o uso durante o intervalo.
Mas, voltando à participação dos nossos estudantes no Pisa, é preciso esclarecer que, entre 2018 e 2022, o Brasil apresentou um desempenho estável, embora insatisfatório, porque o País continuou na parte inferior da tabela, com notas muito abaixo das médias registradas pelos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em outras palavras, não avançamos nem retrocedemos, apenas estacionamos. Em matemática, com 397 pontos, ficamos atrás da Colômbia. Em ciências e leitura empatamos com a Jamaica -- sendo 303 pontos em ciências e 410 pontos em leitura. Detalhe: Singapura, país do sudeste asiático, com pouco mais de cinco milhões de habitantes, ficou em primeiro lugar no certame. Qual a mágica? Na semana vem, trataremos disso. Bom domingo!
João Alvarenga é professor de redação