Depois da COP-28, as transformações

Paradoxalmente, uma dessas consequências poderá ser o forte aumento dos investimentos em petróleo e gás, inclusive pelo Brasil

Por Cruzeiro do Sul

Para o que estava sendo desenhado, não deixou de ser surpreendente o resultado final da Cúpula do Clima da ONU, a COP-28, encerrada na semana passada, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

Mesmo contra o forte lobby do setor do petróleo, a decisão tomada em consenso por quase 200 países participantes foi a de começar a abandonar os combustíveis fósseis e substituí-los pelos combustíveis renováveis, o que sacramenta o objetivo do Acordo de Paris -- que é restringir o aumento da temperatura média global entre 1,5 e 2 graus Celsius sobre os níveis anteriores à Revolução Industrial.

Um dos fatores que possibilitaram esse acordo foram os recordes de alta temperatura ao redor do mundo e a multiplicação de catástrofes, que vêm tomando o noticiário global e aumentaram as pressões sobre as autoridades para que algo seja feito.

As lacunas sobre a decisão tomada são enormes. Não se sabe quando a obrigação começará nem a intensidade com que será colocada em prática. Também não se estabeleceram as condições financeiras para isso nem eventuais punições para os que não cumprirem o acordo. Apesar desses pesares, é decisão grávida de consequências.

Paradoxalmente, uma dessas consequências poderá ser o forte aumento dos investimentos em petróleo e gás, inclusive pelo Brasil -- que se propõe a encabeçar essa transição energética --, porque será a última oportunidade para explorar riquezas que, dentro de poucas décadas, permanecerão enterradas.

Será crescente o número de países que fecharão usinas termoelétricas a carvão e a óleo e que fixarão cronograma para determinar o fim das vendas de veículos a gasolina e diesel e, portanto, para o aumento das frotas de carros elétricos.

Como aumentará o consumo de energia para os veículos elétricos, será necessário multiplicar os investimentos em geração renovável, como energia eólica, energia solar e hidrogênio verde, de modo a triplicar sua capacidade de geração até 2030. Pelos cálculos, os investimentos nos países em desenvolvimento ficarão entre US$ 210 bilhões e US$ 380 bilhões por ano, até 2030. É situação aquém do que vem acontecendo, principalmente no Brasil que, em 2022 destinou R$ 81 bilhões em subsídios para fontes fósseis.

As cidades ao redor do mundo, por sua vez, deverão providenciar redes de terminais de recarga. Não haverá saída para as montadoras senão desenvolver baterias mais eficientes, mais leves e mais baratas. Será inevitável criar sistemas de reciclagem dessas baterias. E, é claro, terão de ser desenvolvidos combustíveis limpos para aviões e navios.

É a nova revolução energética, cujos desdobramentos não estão claros.

Celso Ming é comentarista de economia