O que é o Reino de Deus?
"Quem se envergonhar de mim e das minhas palavras também o Filho do homem se envergonhará dele" (Mc 8,38)
Repetimos com frequência a expressão “Reino de Deus”. Há inclusive igrejas e seitas que se denominam com essa expressão.
Sabemos que Jesus foi um pregador. Ele percorria cidades e vilarejos, pregando e ensinando. O conteúdo central de seu anúncio é exatamente a vinda do Reino de Deus entre os homens. “Completou-se o tempo, e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede na Boa-Nova” (Mc 1,15). A expressão “Reino de Deus” se repete com muita frequência nos evangelho sinóticos (Mt, Mc e Lc). Qual é o significado dessa expressão?
“Reino de Deus” é uma expressão que tem suas raízes profundas no AT: indica não um lugar, mas o exercício concreto da realeza de Deus, a Sua intervenção histórica para fazer reinar a justiça, a paz e a salvação de maneira definitiva. Por isso, o anúncio de que “o Reino de Deus está próximo” provoca nos ouvintes de Jesus expectativas muito sentidas e muito arraigadas no coração: a realização de um ideal de um soberano justo.
A partir disso é preciso continuar perguntando: o que Jesus entendia por “Reino de Deus”? Que realidade é essa que Jesus anuncia estar próxima?
Para responder a essa pergunta é preciso prestar atenção ao que o próprio Jesus diz. “O Reino pertence aos pobres e aos pequenos, isto é, aos que o acolheram com coração humilde (...). Jesus compartilha a vida dos pobres desde a manjedoura até a cruz (...). Mais ainda: identifica-se com os pobres de todos os tipos e faz do amor ativo para com eles a condição para entrar em seu Reino” (CatIg 544).
Reino de Deus é também convite à conversão. Jesus se aproxima dos pecadores porque não se conforma com a perdição deles. Assim como o Pai, Jesus deseja a salvação dos pecadores.
Nesse sentido, as parábolas constituem o coração da pregação de Jesus. Todas elas estão ligadas ao mistério do Reino de Deus: convidam ao banquete do Reino (cf. Mt 22,1-14); exigem opção radical (cf. Mt 13,44-45) e atos concretos além das palavras (cf. Mt 21,28-32); são como espelho para julgar o modo como a pessoa acolhe o Reino (cf. Mt 13,3-9; 25,14-30).
É preciso, por fim, prestar atenção no modo como Jesus anuncia o Reino. Jesus anuncia o Reino de Deus, mas não o anuncia apenas como simples arauto ou comunicador. O anúncio do Reino está tão ligado à sua pessoa que a aceitação do Reino depende da decisão de segui-lo. A escolha a favor ou contra o Reino de Deus está conectada à escolha a favor ou contra Ele (à sua pregação e à sua obra): “Quem se envergonhar de mim e das minhas palavras também o Filho do homem se envergonhará dele” (Mc 8,38). Toda a mensagem de Jesus, inclusive as suas parábolas, se refere a Ele próprio, fala dEle, é Ele.
Em Jesus se revela o “mistério” do Reino. Assim o Evangelho de Jesus (o Reino de Deus) se torna o Evangelho que é Jesus.
Ao celebrar o Centenário da Igreja Particular de Sorocaba, rendemos graças a Deus, porque temos o privilégio de participar pessoalmente da missão evangelizadora de Jesus.
Dom Julio Endi Akamine é arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba