A ressurreição de Cristo e a nossa

Por Cruzeiro do Sul

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A ressurreição não é fruto da alucinação ou da invenção dos apóstolos. A ressurreição é um fato que se refere a Cristo. Não é somente a Sua mensagem que ressurge na pregação dos apóstolos, nem é somente a Sua causa que continua na luta dos Seus discípulos. É a Sua pessoa que está presente e atuante realmente no aqui e no agora da história.

Portanto não é correto pensar que seja a fé dos discípulos a manter viva a causa de Jesus. Ao contrário, é o Ressuscitado que conduz os discípulos à fé na ressurreição. Não é o Mestre que vive graças à luta e ao idealismo dos Seus discípulos; são os discípulos que vivem dEle, porque está vivo, presente e atuante. A mensagem da ressurreição é, de fato, testemunho de fé, mas a fé na ressurreição não é produto desse testemunho.

Cristo ressuscita em toda a sua realidade pessoal. Não é somente a sua alma que vive. A ressurreição de Cristo é também corpórea.

“Por que estais perturbados, e por que essas dúvidas nos vossos corações? Vede minhas mãos e meus pés, sou eu mesmo; apalpai e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que tenho” (Lc 24,39). A insistência dos relatos na realidade corporal de Jesus sublinha que a ressurreição não é a restrição, mas a plenitude da vida. Nesse sentido, a ressurreição não é absolutamente a libertação da corporeidade. Pelo contrário, Jesus ressurge com e na corporeidade.

Nesse mesmo sentido, o túmulo vazio é significativo: a ressurreição de Cristo não é uma realidade puramente espiritual, mas tem referência ao corpo e à realidade histórica e material. A vitória de Cristo sobre a morte não é, portanto, uma libertação ou uma fuga do mundo e da história, mas é um estar presente neles de maneira nova. Com efeito, Jesus Cristo, também em sua humanidade assumida na encarnação, está gora “sentado à direita do Pai”. Em sua humanidade glorificada, Cristo permanece unido ao mundo e a nós. De fato, Ele sobe ao céu “não para se afastar de nossa humildade, mas para dar-nos a certeza de que nos conduzirá à glória da imortalidade” (prefácio da Ascensão do Senhor I).

A ressurreição não significa um retorno de Jesus à sua vida terrena ordinária. Ela não é como a ressurreição de Lázaro. No Novo Testamento, essa verdade se exprime no fato de que o Senhor Ressuscitado não é imediatamente reconhecido em suas aparições aos discípulos; para que os discípulos possam reconhecer Jesus Ressuscitado, é preciso que Ele se faça reconhecer.

Jesus ressuscitado pode ser tocado, come diante dos discípulos, mas, ao mesmo tempo, se subtrai a uma verificação unicamente empírica; seu corpo traz as marcas da paixão, os discípulos podem tocá-lo e, simultaneamente, não é impedido pelas portas trancadas e pode se apresentar em vários lugares ao mesmo tempo (os discípulos de Emaús caminharam o dia todo com Jesus e, ao retornarem a Jerusalém, ouviram o testemunho de que tinha aparecido a Pedro; cf. Lc 24, 13-34). O corpo glorificado de Jesus participa agora da liberdade do espírito.

Além de não ser um retorno à vida terrena, a ressurreição de Jesus tampouco é uma continuação desta vida. Ele retoma a vida, mas se trata da vida nova, definitiva, própria de Deus.

A ressurreição de Cristo é princípio e modelo de nossa ressurreição, por isso a esperança cristã é esperança para a realidade total da vida humana. A promessa de vida feita por Deus ao homem não pode ser entendida somente em termos unilateralmente espiritualistas. Isso seria um empobrecimento indevido da promessa divina revelada e realizada na ressurreição de Cristo. Com efeito, o cristão crê na “ressurreição da carne e na vida eterna”. A nossa história é assinalada definitivamente pela ressurreição de Cristo.

“Agora, que a morte já não é mais o fim de tudo, veio ao mundo a alegria e a esperança. Depois de a morte deixar de ter poder sobre Jesus (Rm 6,9), também já não tem mais poder sobre nós, que pertencemos a Jesus” (YOUCAT, 108).

Meu caro irmão, minha querida irmã: Feliz Páscoa!

Dom Julio Endi Akamine éarcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba