Vizinhos intransigentes

Por Cruzeiro do Sul

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Pesquisas apontam que o mercado de produtos para animais de estimação, os populares pets, tornou-se um negócio altamente lucrativo, movimentando milhões de dólares mundo a fora. Por isso, diversifica-se, a todo o momento, além de gerar milhares de empregos. Afinal, ao longo dos últimos anos, houve uma mudança positiva de paradigma na relação homem-animal. Assim, de simples cães de guarda, ganharam o status de membros das famílias, com direito a carinho, proteção e todo tipo de cuidado. Gatinhos também são apontados como ótimos companheiros, principalmente dos idosos. Desse modo, hoje, todo mundo quer ter um cachorrinho festivo ou um gatinho fofinho para chamar de seu, certo?

Nesse caso, amigo leitor, as exceções também ocorrem no mundo animal. O pior é que muitos conflitos de interesses entre vizinhos beiram à bizarrice. Há determinadas pessoas que simplesmente não suportam ouvir um simples latido de cão. Mesmo que a criatura esteja a uma légua de distância, têm um inexplicável ataque de fúria, com xingamentos permeados de palavrões impublicáveis aqui.

Há, na internet, vários vídeos que registram situações tensas entre donos de pets e os famosos petfôbicos — aqueles que, por razões inexplicáveis, não toleram a presença de tais bichos. Muitos não suportam nem o cheiro de um mísero cocozinho deixado na grama do jardim. Mas, antes de avançar, é profícuo observar que, pelo que se sabe, não há registro de tal termo como uma doença, no rol da psiquiatria norte-americana. O emprego desse neologismo ganhou visibilidade entre os ativistas da causa, para classificar quem bestialmente maltrata animais.

No entanto, parece que a confusão é maior nos bairros da periferia da cidade, pois muitas brigas começam com xingamentos e terminam em ameaças e agressões. A coisa piora, quando o “xerife” do pedaço decide dar fim à pobre criaturinha, só porque dá uns latidos, à noite, inclusive para alertar de possíveis perigos. Nesse caso, é bom lembrar que a legislação prevê prisão de 15 anos para quem comete maus-tratos aos pets. Mas, mesmo assim, há quem não se intimide. Volta e meia, gatos e cachorros aparecem mortos, vítimas de envenenamento. Por sorte, atualmente, há câmeras por toda parte, o que facilita a identificação do criminoso.

Agora, imagine ser vizinho de uma pessoa que, inexplicavelmente, odeia os animais, apenas pelo simples fato de não querer vê-los por perto. Isso, sem nenhum motivo aparente. Também não se trata, aqui, de um portador de alguma síndrome específica. Há casos de crianças que têm algum tipo de alergia, medo ou sensibilidade a ruídos. Algo que até se justifica.

Todavia, a questão que se coloca, neste artigo, só tem um nome: “intransigência”. Já que ocorrem muitas contendas entre vizinhos por causa da presença indesejada dos pobres pets. Geralmente, quem reclama, sempre coloca mil motivos para maltratar essas frágeis criaturas. Alegam que os cachorros latem de mais e perturbam o sono. Ou, então, afirmam que fazem xixi em todos os postes que encontram pelo caminho. Os gatos também não escapam das reclamações: invadem quintais, espalham lixo e deixam um forte odor por onde passam. Além disso, quando as fêmeas estão no cio, os felinos ficam agitados.

Até aqui, nada de relevante quanto às queixas, já que são comportamentos inerentes a tais espécies, cada uma com suas idiossincrasias. No entanto, não devemos nos esquecer de que nós, seres humanos, também fazemos nossas necessidades e que, com isso, poluímos o planeta com nossos excrementos.

Para finalizar, é triste perceber que Sorocaba tem se destacado, negativamente, nesse aspecto porque, quando não é um vizinho impertinente — que provoca confusão com todo mundo — em outras situações, o tutor se torna alvo de investigação, porque ou não cuida direito do seu amiguinho ou, então, abandonou-o pelas da ruas cidade. Isso também é um crime. Bom domingo!

João Alvarenga é professor de redação