Em busca da felicidade

Por Cruzeiro do Sul

"Idílio", Tarsila do Amaral (1929)

O que te deixa feliz? Essa indagação nasceu de um estudo recente da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Nele, cientistas elencaram algumas atitudes saudáveis que promovem a felicidade. Esse assunto foi destaque internacional. Antes, tal tema passava batido; mas, de uns tempos para cá, o bem-estar emocional humano despertou o interesse da ciência. Por quê? Ao longo deste artigo, mostraremos que, mais do que nunca, a humanidade está em busca desse estado emocional.

Na verdade, essa corrida começou, nos anos 60 do século passado, no auge do movimento “hippie”, em que a juventude norte-americana se mostrava insatisfeita com o padrão de felicidade estadunidense, calcado no consumismo. Houve rupturas, e o “sonho de liberdade” tornou-se sinônimo de felicidade. Todos queriam encontrar o Nirvana — do hindu que, em bom português, significa o “permanente estado de graça”.

Todavia, a eterna busca pelo equilíbrio emocional, no qual a pessoa se sinta bem consigo mesma e com o todo à sua volta, não só persiste como passou a ser o “X” da questão neste século. Isso porque o ser humano, graças à evolução tecnológica, acelerou o seu ritmo de vida, tornando-se refém da própria pressa. Assim, tudo é “pra ontem”, e todo o recurso existente, hoje, que seria a redenção do trabalho, faz o homem trabalhar o dobro do tempo.

Logo, por mais que tenhamos chegado ao ápice, em termos de produção e aquisição de bens para o nosso próprio conforto, enfrentamos um terrível paradoxo: a contradição dos excessos. Parece estranho afirmar, mas o conforto exacerbado, o consumismo, resultante da facilidade de ter tudo à mão (o tempo todo), da alimentação industrial à parafernália “high tech”, tem gerado uma espécie de vazio existencial inexplicável.

Ironicamente, o ser humano se parece com uma criança que desejava, por demais, ter um carrinho que via na vitrine de uma loja. Tanto insistiu, que seu pai fez sua vontade. Mas, assim que o ganhou, perdeu o interesse. Isso lembra aquela bela canção de Raul Seixas, na qual ele narra que passou perrengue, no Rio de Janeiro, quando chegou da Bahia completamente anônimo. Porém, bastou ter fama e dinheiro para cair no tédio.

Logo, os extremos sempre nos fazem mal, pois o excesso é tão nocivo quanto a escassez. E ter tudo, ao mesmo tempo, sem muito esforço gera sentimento de inutilidade. A falta de limites também leva à infelicidade. Não é à toa que a depressão é apontada como a “doença do século 21”, atingindo principalmente crianças e adolescentes. Afinal, muitos pais, na ânsia de proporcionar bem-estar aos filhos, exageram na dose da atenção e evitam falar em restrições.

No entanto, o leitor deve estar se questionamento: e o segredo da paz interior? Pois bem, tratemos disso, a seguir. Antes, é bom frisar que o resultado da pesquisa citada no início é fruto de mera observação do comportamento humano e que, de tempos em tempos, sempre surge alguém propondo milagres nesse campo. Aliás, não existe um único segredo para a felicidade plena, pois isso é muito relativo. Mesmo assim, vale a pena refletir as dicas.

Antes, o mundo corporativo acreditava que o sucesso leva à felicidade; agora, a felicidade leva ao sucesso em todos os campos. Para isso, o professor de Psicologia Positiva, de Harvard, autor da “fórmula da felicidade”, Ben-Shahar, criou um método com sete passos para aplicar no cotidiano.

São dicas simples, tais como: ser afetuoso com familiares e amigos; perdoar os fracassos, pois fazem parte do aprendizado. Ter empatia e ser grato são formas simples de valorizar a vida. A prática esportiva, sem caráter competitivo, também torna as pessoas felizes. Já no trabalho, focar apenas em uma tarefa por vez, para evitar o estresse. Por fim, a meditação e o exercício da espiritualidade aparecem como “auxílio divino” para quem deseja atingir o equilíbrio emocional. Bom domingo!

João Alvarenga é professor de redação