Eleições à vista e falta de estratégia

Por Cruzeiro do Sul

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As eleições municipais, base para o desenho político de 2026, estão a pouco mais de cinco meses e, no entanto, o presidente Lula parece aflito com a falta de argumentos eleitorais para apresentar.

O Bolsa Família já não rende tanta propaganda eleitoral como antes. O Desenrola, que se propôs a renegociar as dívidas de até R$ 20 mil, apresentou algum resultado, mas o endividamento familiar continua muito alto. Nem mesmo o governo parece entusiasmado com a queda do desemprego para a casa dos 7% da força de trabalho. O avanço do PIB, da ordem de 2% ao ano, é maior do que o que estava nas expectativas, mas o presidente Lula acha pouco.

Fora a reforma tributária — que, por enquanto, não garante voto —, o governo Lula não consegue apresentar estratégia sustentável de desenvolvimento econômico e de criação de renda. Em fevereiro, apresentou, em meio a um show de trombetas, a Nova Indústria Brasil, baseada em discursos requentados. Mas, até agora, ninguém sabe a que veio. Nem as tais metas cobradas pelo presidente, que pormenorizariam o projeto, chegaram a ser anunciadas. Os investimentos noticiados há semanas pelas montadoras de veículos têm mais a ver com iniciativas das matrizes sediadas no exterior do que com diretrizes de política industrial do governo.

Uma das ideias seria o lançamento de um programa consistente de reformulação energética, com potencial para a redenção da indústria. Mas, nesse campo, as coisas estão emperradas, mais por falta de decisão política e de regras claras de jogo do que de recursos para investimentos.

Nessa paisagem, o presidente Lula tenta ocupar os espaços da opinião pública, com tiradas proferidas de seus próprios cercadinhos. Não para de desancar o presidente do Banco Central e a política de juros, como se tudo dependesse de crédito barato.

Cria fuzuês na direção da Petrobras, cujo efeito imediato são enormes solavancos no fluxo de recursos no mercado, que o presidente atribui a meras divergências de opinião entre alguns dos seus ministros e ele próprio. Afinal, a distribuição de dividendos, antes “inadmissível”, como afirmaram os engenheiros da Petrobras, sairá como queria seu presidente, que vinha sendo fritado por isso.

Do ministro Fernando Haddad, um dos mais ativos do governo, cobra menos leitura e mais ação. Do sempre risonho vice-presidente Geraldo Alckmin, quer que se mexa mais para articular com os políticos.

O maior engano do presidente Lula é o de que rombo fiscal não seja problema. Pior ainda, é achar que seja solução eleitoral. Ao contrário do que ele afirma e de acordo com o que já pensou, todo gasto é gasto, não importa a designação do momento, seja custeio, investimento ou benefício social. Quando a despesa ultrapassa a receita, o resultado é mais inflação, mais dívida, mais juros, mais incerteza, menos propensão ao investimento das empresas e menos emprego. Simples assim.

Celso Ming é comentarista de economia