Eremitas virtuais

Por Cruzeiro do Sul

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A crescente onda de perfis falsos na internet motivou esta abordagem que visa alertar, principalmente os pais, dos perigos que rondam as redes sociais atualmente. Antes de seguir, saliento que, por opção, não frequento o Facebook, não existo para o Instagram ou Tik Tok. Ou seja, sou um genuíno eremita digital, pois aprecio a privacidade. Aliás, isso garante isenção tanto na abordagem dos temas em sala de aula, quanto na correção dos textos dos alunos. Mas, sei que não estou sozinho nessa trilha, pois há muita gente que prefere o anonimato à hiperexposição. Por isso, se o leitor topar com algum perfil meu, pode ter certeza que é fake.

Todavia, não critico quem curte expor-se na internet, pois muitas profissões precisam desse tipo de visibilidade. Naturalmente, as redes sociais funcionam como uma excelente vitrine para realizar bons negócios. O problema reside na seguinte questão: se a exposição for exagerada ou desnecessária, isso pode se tornar perigoso. Por isso, quem frequenta os ambientes virtuais precisa tomar certos cuidados, a fim de evitar cair em “armadilhas”. Afinal, há certas situações que, muitas vezes, fogem do controle, e uma postagem infeliz pode causar prejuízo ou constrangimento.

Especialistas em segurança digital observam que nas postagens há de tudo um pouco, desde uma ingênua brincadeira a intenções mais malignas, como obter lucro de forma ilícita, a partir de montagens de páginas falsas, com o uso da Inteligência Artificial. Assim, criar perfil tornou-se uma febre até mesmo entre os adolescentes, que não medem as consequências de tais atos. Muitas vezes, os jovens montam uma conta fake de um amigo ou até de professores, por pura “zoação” — como dizem.

Quem faz isso, porém, não calcula que, dependendo do tom, a brincadeira pode se tornar algo mais sério e, lamentavelmente, provocar estragos na vida de uma pessoa que nem sequer imaginava que sua imagem estava sendo usada de forma inadequada. Isso pode afetar o lado profissional de quem foi alvo desse ato impensado. As vítimas dessas montagens relatam que tiveram trabalho para remover o perfil, mesmo após o registro de boletim de ocorrência. Embora o Marco Civil da Internet assim determine.

Diante desse cenário, nota-se que os criminosos não poupam ninguém. Ou seja, famosos e anônimos estão nas mãos dos criminosos virtuais, que se apropriam de forma ilícita de imagens das vítimas para a prática de todo tipo de delito. Tanto que muitas pessoas, após terem suas vidas afetadas por tais postagens, optam por se desvincular das redes sociais, para não cair, novamente, em golpes, ou serem vítimas de situações constrangedoras. O problema é que, em alguns casos, os criminosos podem tirar uma foto de forma aleatória de alguém, mesmo num lugar público, sem que isso seja notado.

De acordo com dados da Delegacia de Crimes Virtuais, as mulheres, além de prejuízo financeiro, sofrem danos emocionais, pois suas imagens ganham conotação sexual. Essa situação gera constrangimento e vergonha às vítimas desse crime, previsto no Artigo 218, do Código Penal, que trata da exposição de imagens íntimas sem autorização da pessoa. Isso tem gerado muita preocupação às autoridades, além de deixar muita gente com medo de ter sua imagem associada a algo ilícito, constrangedor ou perigoso. Tanto que muitos famosos estão deixando as redes sociais, já que os espertalhões tentam tirar vantagem da popularidade das celebridades para aplicar todo tipo de crime.

Recentemente, uma reportagem sobre golpes virtuais mostrou que o médico e apresentador Dráuzio Varella, da TV Globo, foi uma dessas vítimas. Fizeram uma montagem na qual ele aparece vendendo colágeno. Usaram sua imagem e voz criminosamente. William Bonner e Ana Maria Braga também estão nesta lista. Infelizmente, a tecnologia se tornou uma aliada do crime. Por isso, todo cuidado é pouco. Bom domingo!

João Alvarenga é professor de redação