A CNBB e a Assembleia Geral

Por Cruzeiro do Sul

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Gostaria de partilhar com os leitores de boa vontade a experiência pessoal que fiz ao participar da 61ª Assembleia Geral da CNBB.

Participaram da Assembleia, realizada de 10 a 19 de abril de 2024, mais de 440 bispos. Se levarmos em conta que o número total do episcopado brasileiro é de 482 dos quais 316 estão no exercício do governo de uma Igreja Particular e outros 166 são bispos eméritos (aposentados), caímos na conta da participação maciça e absoluta dos bispos na Assembleia Geral. É só fazer uma comparação com as assembleias que, vez ou outra, participamos para perceber que todos os bispos têm em grande conta a sua participação pessoal na Assembleia da CNBB. Nenhum dos poucos bispos que não estiveram presentes se ausentou por uma rejeição à CNBB. Bispos de diversas tendências filosóficas e teológicas participaram com senso de responsabilidade da Assembleia. As diferenças não rompem a unidade da Igreja, antes a enriquecem.

A Assembleia da CNBB é um evento espiritual. Iniciamos a Assembleia deste ano com o retiro: foram dois dias de oração, pregação e silêncio. Além disso, todos os dias da Assembleia foram ritmados pela oração: a missa, o rosário, a liturgia das horas, a conversação espiritual. Para pregar o retiro, foi convidado o Cardeal Piero Parolin, Secretário de Estado do Vaticano. A presença dele não é um fato de pouca monta: revela a importância que a própria Santa Sé dá à CNBB. Além disso, o próprio Cardeal Parolin exprimiu seu apreço pela CNBB, dizendo que uma reunião com tantos bispos de um único país é um evento que se verifica somente no Brasil; em Roma ocorre algo parecido, mas só quando há um encontro internacional.

Durante toda a Assembleia esteve presente o Núncio Apostólico (o equivalente do embaixador da Santa Sé no Brasil). Também ele demonstrou grande apreço pela CNBB não só com palavras de afeto, mas sobretudo com sua presença.

A Assembleia é um evento de estudo e de debate. Nesse sentido, o tema central “Diretrizes gerais da ação evangelizadora” nos guiou no discernimento eclesial de ouvir o que o Espírito Santo está dizendo à Igreja. Como é possível fazer tal discernimento eclesial?

Para guiar o estudo sobre a Ação evangelizadora, estudamos dois documentos: “Análise da Conjuntura Social” e da “Conjuntura Eclesial”. Não é fácil saber o que está acontecendo, e os bispos precisam da ajuda de pesquisadores e especialistas para ter uma visão equilibrada e profunda da realidade. As Análises de Conjuntura não representam a posição do episcopado brasileiro e da CNBB; são apenas subsídios para ajudar na reflexão. Ninguém é obrigado a aceitar seu viés social e eclesial; são hipóteses de trabalho.

A Assembleia é um evento católico. A presença do Secretário de Estado e de um bispo de Burkina Fasso trouxe o respiro da Igreja presente no mundo todo. A apresentação da situação da Igreja Católica no mundo (Moçambique, Nigéria, Venezuela, Nicarágua, China, Rússia, Ucrânia) nos fizeram “tirar os olhos do próprio umbigo” para experimentar que somos bispos para o mundo todo, ainda que estejamos ligados esponsalmente a uma Igreja Particular.

A Assembleia da CNBB é um evento eclesial. Participar dela, me ajuda a cair na conta de como é grande este País, quão grandes e variados são os desafios da evangelização. Tratamos de muitos assuntos: o desafio e as perspectivas pastorais da Inteligência Artificial, as vocações na Igreja, o cuidado com a saúde integral de bispos e padres, a defesa dos povos indígenas, a ecologia integral, as causas dos santos, as eleições municipais e a formação da consciência política dos fiéis, a Amazônia, o Acordo Brasil-Santa Sé e sua regulamentação, a evangelização da juventude, a Catequese e o ministério de Catequista, a Doutrina da Fé, o enfretamento do tráfico humano, o laicato, a Vida Consagrada, a defesa da vida e da Família, a Doutrina Social da Igreja, o Jubileu da Esperança, Assuntos de liturgia.

A Assembleia Geral da CNBB exprime muito bem o que é a Igreja: ela é “católica”! Diferente da seita, a Igreja Católica procura falar ao mundo de maneira significativa e busca pessoas de boa vontade com quem deseja colaborar em vista do bem comum. Sem abdicar de seu sentido religioso de conversão pessoal, sem deixar no esquecimento o que é próprio do catolicismo, a CNBB interpela os irmãos de outras igrejas, os membros de outras tradições religiosas e os ateus a tomar parte do seu empenho em vista da construção de uma sociedade humana, fraterna e querida por Deus.

A Assembleia da CNBB renova em mim o senso profundo da santidade, unidade, catolicidade e apostolicidade da Igreja, da qual sou filho.

Dom Julio Endi Akamine é arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba