A representação política

Por Cruzeiro do Sul

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No próximo 20 de julho, começam as convenções para os partidos escolherem seus candidatos para as eleições municipais de 6 de outubro. Vão as convenções representar a vontade dos eleitores de seus partidos? Estão os partidos políticos representando verdadeiramente as diversas correntes ideológicas, doutrinárias, culturais, que fazem parte da vida e das diferentes raízes de seus eleitores? É bom lembrar, antes de mais nada, que os eleitores são os mandantes dos políticos — e esses, seus mandatários — já que em democracia o poder emana do povo. Estão os partidos sendo os reais representantes e defensores das expectativas, esperanças e necessidades do povo? Parece que não. E também parece que os partidos não querem encarar esse fato, porque não pretendem abandonar seu fisiologismo e sua distância do povo. Os partidos só se aproximam do povo em vésperas de eleição, como agora. Se nessa fase auscultam a origem do poder, parece que depois esquecem.

Os programas partidários são quase iguais. Emprego, desenvolvimento econômico, diminuição das desigualdades... Pergunte a um eleitor cujo casebre exibe na parede o cartaz de algum partido por 30 anos, se sua vida melhorou por ter sido votante fiel. Se teve saneamento, atendimento à saúde, segurança, ensino eficiente para os filhos, oferta de bom trabalho. Quais os resultados dos discursos, entrevistas, declarações, promessas nas redes sociais? Tornaram-se realidade? Os partidos políticos — com os bilhões de reais dos pagadores de impostos a garantir fundos para campanhas e para sustentar suas atividades — estão conscientes de que devem satisfações à origem do poder e do dinheiro que os sustenta?

A recente eleição para o Parlamento Europeu mostrou como as correntes políticas tradicionais, a social democracia e a democracia cristã, com todo desenvolvimento europeu, não estão conseguindo dar respostas às necessidades de seus cidadãos. Imagino como estão se sentindo também os dois partidos americanos, em ano eleitoral — democratas e republicanos — diante de um povo que venera Thomas Jefferson e Abraham Lincoln. Na Europa, o eleitor votou em novas forças e as velhas oligarquias limitam-se a tentar desqualificar as novidades, carimbando-as de populismo. Macron chama de fascismo. Mas o povo europeu sente que os oligarcas falharam, com imigrações descontroladas e importação do modismo woke americano. São os mesmos desde o fim da II Guerra e não querem largar o poder mas o povo avisou, nessa eleição do Parlamento Europeu, que vai tirá-los. Lá, pelo menos, todos garantem a liberdade de expressão.

Lá como cá os partidos — vale dizer, seus “donos” — vão ter de mudar se quiserem ficar. Não adianta rotular a novidade; é preciso conhecer a vontade atual de seu patrão, o brasileiro. Estão tentando enfiar goela abaixo do povo idéias estranhas ao espírito nacional — e vão perder. Bobagens importadas e geradas por elites supostamente progressistas, não são sequer compreendidas. Ainda não estamos na torre de marfim de discussões intelectuais; nosso chão é mais embaixo. Estamos precisando de saneamento, esgoto, água tratada, saúde básica, ensino de verdade, segurança, proteção à vida e à propriedade e respeito a um povo que pouco tem, mas percebe quando um político está mentindo e quando um partido já não está à altura da expectativa.

Alexandre Garcia é jornalista