Nos braços da indolência
Antigamente, a sabedoria popular defendia a ideia de que as conquistas pessoais passavam por três feitos: escrever um livro, gerar filhos ou plantar uma árvore. O ser humano que realizasse uma dessas três tarefas já teria cumprido sua missão neste planeta. E mais, deixaria algum legado: uma contribuição à literatura, a perenidade do nome da família, a partir dos futuros descendentes... ou, então, muitos repousariam à sombra de um frondoso arbusto. Mas, quem desse conta do pacote completo, atingiria a plenitude em termos de realizações, além de ser reconhecido como alguém que não pensou só em si, mas nas futuras gerações. Parafraseando Burle Marx, dizemos quem planta uma árvore não planta para si — pois, talvez nem a veja crescer — mas para os outros.
No entanto, ao longo do tempo, além dos três componentes citados no primeiro parágrafo, a sociedade acrescentou um quarto item que sobrepõe os anteriores: a importância dos estudos para obter um diploma universitário que, por consequência, abriria as portas do mundo do trabalho digno. Leia-se: uma carreira profissional vitoriosa. Assim, família e governo passaram a apostar todas as suas fichas na escola como o único caminho para a construção de uma nação próspera e com igualdade de condições para os cidadãos. Então, os vocábulos “educação” e “trabalho”, por muitas décadas, andaram juntos, quase como se fossem sinônimos um do outro. Muitos governantes endossaram a tese de que a formação acadêmica era “passaporte” para o emprego.
Todavia, parece que esse discurso não encontra muita ressonância em uma boa parte da nossa juventude nos dias de hoje. Infelizmente, estudos recentes do IBGE identificaram uma situação crítica: quase 10 milhões de jovens, com idades entre 15 e 29 anos, não estudam nem trabalham. Isso representa 19,8% da população brasileira completamente inativa. Assim, pejorativamente, esse grupo ganhou o apelido de “Geração Nem-nem”, pelo fato de que muitos desses jovens não sonham com uma formação acadêmica, porque acham que o diploma universitário não vai alterar a realidade em que estão inseridos. Mas, também, não querem trabalhar porque entendem que a remuneração é insuficiente.
Mas, qual o perfil desses jovens? Estudos apontam que a maioria dos adolescentes mora nas periferias das grandes cidades do País. Especialistas defendem que essa geração chegou à pura inércia devido a um conjunto de fatores, tais como: desigualdade social, problemas familiares, envolvimento com drogas, além de problemas psicológicos, como depressão e síndrome do pânico. Muitos enfrentam barreiras socioeconômicas que tolhem o acesso à escola e ao mercado de trabalho, aliado ao racismo estrutural. Isso faz com que desistam de obter um espaço na sociedade. Assim, tornam-se apáticos e descrentes do sistema.
Tal conduta, no entender de alguns estudiosos do comportamento humano, remete ao pensamento niilista do filósofo alemão Friedrich Nietzsche. O niilismo é uma corrente de pensamento que faz críticas ao Iluminismo, pois este foi incapaz de cumprir as promessas de uma sociedade igualitária, a partir do acesso ao conhecimento.
Num ponto todos concordam: a sapiência é a chave que liberta a sociedade da ignorância. No entanto, isso requer compromisso, pois o saber nem sempre é prático. Além disso, muitas mazelas sociais esbarram em decisões políticas. Assim, muitos psicólogos afirmam que, para os jovens, há uma ausência de sentido em suas vidas. Por isso, o niilismo encontra eco nas atitudes da juventude, porque a “Geração Nem-nem” perdeu a motivação para sonhar.
Por fim, há quem culpe o excesso de paternalismo do Estado, pois estimula a indolência e não valoriza o mérito. Para o governador do Mato Grosso, Mauro Mendes, o Brasil possui muitos programas sociais. “Isso faz com que os beneficiários fiquem reféns do assistencialismo, prejudicando a geração de empregos”. Bom domingo!
João Alvarenga é professor de redação