Muda o tom, o dólar recua e vem cortes
O presidente Lula mudou seu discurso. Declarou, nesta quarta-feira (3), que “responsabilidade fiscal não são palavras, mas compromisso do governo”. Pelo que foi decidido nesta quarta-feira e anunciado no início da noite, podem ser mais do que meras palavras.
A mudança de tom já fora suficiente para derrubar a cotação do dólar de R$ 5,66 para R$ 5,56. Isso mostra que as intervenções retóricas do presidente Lula a favor da gastança e contra o presidente do Banco Central têm a ver, sim, com a esticada das cotações da moeda estrangeira.
Mais do que o que diz, pesa o que Lula pensa e faz. O anúncio de cortes e de observância do déficit zero no Orçamento de 2025 é um bom começo. O que precisa ser visto é se o dito será observado na prática.
Depois de esgotadas as “explicações” para a disparada das cotações do dólar, o presidente Lula parece disposto a admitir que seu governo é parte do problema. Começou por dizer que os apostadores na alta da moeda estrangeira “quebrariam a cara”, dando a entender que estavam do lado errado, sem indicar os porquês. No entanto, os tais apostadores só ganharam com o tal jogo errado. Depois, disse que a disparada do câmbio era resultado de “especulação com derivativos”. E, em seguida, que se devia à “especulação contra a moeda nacional, o real”.
Sempre que uma especulação dá certo é porque há condições para dar certo. Ou seja, há, ou havia, algo de errado na condução da economia a ponto de criar incertezas que levem tanta gente a se refugiar no dólar. Em todo esse tempo, Lula desancou o atual nível da Selic e ignorou que juros altos atraem dólares, e não o contrário. Após muitos ruídos, o presidente Lula finalmente admitiu que era preciso ‘fazer alguma coisa‘.
A ideia de taxar com IOF a compra de moeda estrangeira para desestimular as compras não leva em conta que boa parte da alta não se deve ao aumento da procura de dólares, mas da redução da oferta, por meio da retenção de receitas no exterior por parte dos exportadores.
Em todo o caso, a maior falha do governo até aqui foi de diagnóstico. O aumento da incerteza é consequência da forte deterioração das contas públicas. Mesmo com recordes de arrecadação, o rombo avança porque as despesas aumentam mais que as receitas.
O problema maior não são as seguidas falações equivocadas de Lula, mas a falta de convicção de que seja preciso atacar o déficit. Ainda está para ser comprovado se o presidente Lula deixou de achar que a necessidade de garantir superávit fiscal seja coisa ligada à ganância dos banqueiros e do mercado. Os ministros Fernando Haddad e Simone Tebet saíram prestigiados. Falta saber até quando.
Celso Ming é comentarista de economia