A boa surpresa da inflação
De toda surpresa, espera-se consequência. Desta vez, a surpresa foi a magreza da inflação de junho, abaixo de todos os prognósticos disponíveis: 0,21% no mês, o que aponta para a acumulada de 2,48% neste primeiro semestre.
A surpresa positiva não se limitou à inflação cheia. Estendeu-se para os itens da cesta de consumo que mais preocupavam os analistas: alimentos e serviços apresentaram desaceleração. Também caiu a difusão, o número de itens em alta caiu de 57% para 52%.
Os dois fatores que mais tiravam o sossego dos analistas e que tendiam a repuxar os preços eram a alta do dólar e as perdas produzidas pelas cheias no Rio Grande do Sul. Mas, aparentemente, não tiveram grande impacto.
Para este mês de julho, segue o potencial corrosivo em outros dois campos: o baixo progresso do tratamento do governo ministrado à questão fiscal e as correções da gasolina e do gás de cozinha, em vigor a partir desta terça-feira.
A próxima reunião do Copom que vai redefinir os juros básicos (Selic) está agendada para 30 e 31 de julho.
A partir dessa inflação mais moderada, os mais pessimistas, que acenavam para um novo aumento, foram obrigados a rever seus prognósticos. Se é dado como certo que não haverá novo corte dos juros, também é certo que não haverá aumento. O governo Lula segue pressionando o Banco Central para novos cortes. Quer juros nos padrões de Primeiro Mundo para a política monetária. Não leva em conta que este país tem um índice baixíssimo de poupança, da ordem de 15% ou 16% do PIB. O resto é consumo. Isso significa que o capital é rarefeito e, portanto, por pura imposição da lei da oferta e da procura, seu preço (os juros) não pode ser muito mais baixo do que é hoje.
O semestre fechou com alguns números melhores na economia. A inflação, já se viu, parece mais contida. O avanço do PIB caminha para alguma coisa acima dos 2%, como preveem os comentaristas. As contas externas seguem exuberantes, graças ao bom momento das exportações de grãos (soja e milho), petróleo e minérios. O desemprego está nos 7,1%, nível baixo para os padrões do Brasil. Advertido sobre os estragos no mercado produzidos pelas suas falações, Lula parece ter parado de desancar o presidente do Banco Central e passou a admitir a necessidade de levar mais a sério a administração das contas públicas. Menos mal.
O desempenho da economia mundial ainda é insatisfatório. No entanto, a grande fonte de incertezas para a economia brasileira continua sendo a ineficácia da política fiscal do governo Lula. E isso contamina tudo.
Celso Ming é comentarista de economia