Quem ama, liberta!

Por Cruzeiro do Sul

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O título deste artigo foi emprestado da campanha “Vozes”, do “Instituto Vida Livre”, que atualmente circula pela internet. Com adesão de vários artistas e ambientalistas, um vídeo, nas redes sociais, faz um forte apelo em favor de frágeis criaturas que estão sendo vítimas do tráfico indiscriminado de animais silvestres. A ideia é denunciar essa prática terrível que ocorre no meio da mata; mas que, infelizmente, está longe de ter uma solução eficaz. Dia a dia, estão retirando de nossas florestas o que há de mais belo e encantador: os passarinhos de inúmeras espécies.

Como um grito de alerta, a campanha visa conscientizar a sociedade sobre essa tragédia. Embora seja considerado crime ambiental, os criminosos zombam da legislação. Os ambientalistas têm a solução: transformar tal ação em crime hediondo. Sem direito à fiança. Porque, atualmente, observam, as multas são irrisórias, com penas brandas. Inclusive, há traficantes internacionais que agem livremente em nossas florestas. Assim, indefesos passarinhos são capturados ainda em seus ninhos e são levados das florestas para os grandes centros urbanos, onde são comercializados como se fossem meras mercadorias.

Transportados em precárias condições, durante o trajeto, sofrem todo o tipo de maus-tratos. Muitos morrem pelo caminho. Isso mostra uma falta de respeito à criação divina, pois como diz a letra da canção “Obras de um poeta”, de Chitãozinho e Xororó, “os passarinhos enfeitam os jardins e as florestas...” Por isso, nunca deveriam ser retirados de seus “lares”. Assim, lentamente, muitas espécies vão silenciando seu canto na mata. Dizem que, na zona rural, é raríssimo o canto estridente das arapongas. Por aqui, vez ou outra, ouvimos um solitário bem-te-vi.

O Cruzeiro já fez várias reportagens sobre esse assunto. Recentemente, a Polícia Ambiental resgatou quase cem passarinhos. Transportados precariamente, seriam exportados à Europa. Apesar das denúncias, infelizmente, falta uma ação efetiva contra esses criminosos que lucram à custa do sacrifício de frágeis criaturas. De forma ousada, os traficantes comercializam, ilegalmente, canarinhos, pintassilgos, sabiás e espécies que estão em vias de desaparecer das nossas florestas.

Infelizmente, há uma lógica cruel nisso tudo: se há oferta é porque tem procura. Ou seja, há um cruel mercado consumidor, principalmente estrangeiro, que paga muito bem por tais espécies. Isso lembra a música “Passaredo”, de Chico Buarque, que já alertava: “xô, rouxinol, que o homem vem aí”. Aliás, há inúmeras canções, inclusive do “sertanejo raiz”, com viés ecológico, que focam essa problemática. A música “Chora coração”, diz: “Passarinho na gaiola feito gente na prisão”. Mas, como pôr fim a isso? Os ativistas são unânimes: o combate ao tráfico ficará mais enérgico se o Congresso Nacional aprovar o Projeto de Lei Projeto de Lei 4.278 que, desde 2023, está na fila para ser votado.

Por isso, a campanha, além de dar visibilidade ao problema, visa pressionar os congressistas para que aprovem esse projeto, para atenuar o sofrimento de tantos passarinhos que estão na mira dos traficantes, tais como: canarinhos, bem-te-vis, ararinhas azuis, entre outros pássaros que, infelizmente, que poderão sumir das nossas matas.

Finalizando, no vídeo da campanha, a cantora Maria Bethânia declama um belo texto de autoria do ativista Roched Seba, no qual faz uma analogia entre o ser humano e um passarinho. No início, temos a impressão de que a cantora está falando de uma mulher, que foi cativada pelo amor de um suposto amante. Mas, no fundo, prendeu-a e a obriga cantar. Só no final, quando Bethânia faz a correção: “não é casa, é gaiola/Não é amor, é cativeiro”, é que percebemos que se trata da triste narrativa não de um único pássaro, mas de milhares deles que todos os dias são cruelmente sequestrados. Detalhe: a sociedade não paga o resgate. Quem poderá salvá-los? Bom domingo!

João Alvarenga é professor de redação.