Urbanismo e ilhas de calor
As discussões em relação ao novo Plano Diretor Estratégico de Sorocaba me estimularam a escrever este texto em relação ao urbanismo quanto aos efeitos das ilhas de calor em prejuízo de nossas cidades. Abaixo seguem alguns comentários.
Hipódamo (498-08 a.C.) foi o precursor dos projetos urbanos ao desenhar o plano urbano (479 a.C.) para a reconstrução de Mileto e, posteriormente, o projeto urbanístico (451 a. C.) do Pireu, região portuária de Atenas. O desenho criado por ele tinha traçado ortogonal, quadras dispostas em harmonia, proporção e simetria com o fim de distribuir os espaços em público e privado sob hierarquia de classes sociais.
Os romanos acolheram o modelo hipodâmico junto ao etrusco e implantaram várias cidades sob a orientação dos eixos norte-sul (cardo) e leste-oeste (decumeno — ou decimal), os quais representavam o eixo principal e o secundário, respectivamente.
Ao tempo da República (509 a 27 a.C.), eles conquistaram os espanhóis e estes aprenderam a construir cidades, em moldes assemelhados ao romano. Ao tempo do domínio espanhol (1580 a 1640), nosso País teve várias cidades reais construídas sob a influência do rei Filipe II, das quais são exemplos Filipéia de Nossa Senhora das Neves (atual João Pessoa), em 1585 e Nossa Senhora de Belém, em 1616.
Daquela época para a atual passamos pelo modernismo, que transformou o pensamento artístico, literário, arquitetônico e urbanístico, do qual o arquiteto franco-suíço Le Corbusier teve maior destaque. A corrente arquitetônica modernista não acolheu a preservação do meio ambiente natural desde que surgiu, e entendia a arquitetura e o urbanismo sob a óptica do progresso tecnológico e científico, em ascensão desde o final do século XIX, numa perspectiva positivista, racionalista e, também, ideológica (enquanto acolhida pelos poderes públicos).
Para mudar esse foco serão necessários mais do que novos materiais e projetos. Será preciso redesenhar nossas cidades, assim como o prefeito Georges-Eugène Haussmann (1853-70) redesenhou a cidade de Paris. Ele destruiu a medieval cidade existente (insalubre, prosaica e sombria) e construiu a nova, intitulada “cidade luz”, nos moldes como até hoje existe e conhecemos.
Medidas pontuais (recortes urbanos) são bem-vindas, mas tem efeitos limitados no espaço e no tempo por não suprirem todas as necessidades ambientais a serem implantadas e desenvolvidas. As preocupações com o meio ambiente natural remontam à segunda metade do século XX, a partir da década de 1970 em diante, cujos chefes de Estado, de governo e outras autoridades participantes pouco fizeram de concreto.
Conclusivamente, as ilhas de calor e os danosos efeitos das transformações bioclimáticas de que somos contemporâneos somente serão mitigados se nossas cidades forem plenamente redesenhadas, com o fito de proteger o meio ambiente natural em benefício delas mesmas e de nossas civilizações. Nada a mais.
Marcelo Augusto Paiva Pereira é arquiteto e urbanista.