A dimensão social da indulgência
Todo pecado provoca a destruição de imensos bens. O pecado é, de fato, uma insanidade, pois acarreta consequências danosas ao pecador, no seu ambiente e nos outros. As penas eterna e temporal revelam essa insanidade.
Para livrar das penas do pecado, a Igreja não se contenta somente em rezar pelos penitentes, mas por sua autoridade oferece-lhes o tesouro do Redentor, de Nossa Senhora e dos santos. O sacramento da confissão nos livra da pena eterna, e a Indulgência nos absolve das penas temporais.
O dogma da comunhão dos santos implica que os batizados estão profundamente vinculados a Cristo e, por causa disso, unidos entre si de tal forma que na Igreja a santidade de um beneficia os outros. Assim o penitente nunca está sozinho na sua luta contra o pecado. Ele pode contar com o auxílio dos batizados e da Igreja, auxílio esse que consiste em aplicar ao penitente arrependido todos os méritos de Cristo e sua paixão salvadora. Além desse tesouro, que é o próprio Cristo, Igreja oferece ao penitente todas as orações e boas obras da Virgem Maria e de todos os santos e santas de Deus. O sacramento da reconciliação e a Indulgência são os meios que nos conectam a essa maravilhosa e superabundante riqueza de bens espirituais que a Igreja nos oferece para que nos purifiquemos dos pecados e de suas penas. Isso nos mostra que não são as nossas obras que nos salvam ou purificam das penas, mas unicamente Cristo e, em união e dependência dele, os méritos dos santos.
Nós não contamos somente com os próprios recursos para nos purificar. Se assim fosse teríamos motivos de sobra para nos desesperar da salvação. Ao contrário, nós contamos com Cristo que nos amou e se entregou por nós. Contamos com a intercessão da Virgem Maria e dos santos e santas de Deus e com os batizados que rezam e se sacrificam uns pelos outros. O sacramento da reconciliação e a indulgência nada mais são do que os meios para tornar mais visível essa maravilhosa vinculação de amor que nos leva a partilhar os bens espirituais.
A prática correta da indulgência nos ensina como é triste e amargo abandonar Deus e ofendê-lo com o pecado. Quando os penitentes se empenham em receber a indulgência, compreendem que somente com suas próprias forças não podem se livrar dos danos que se infligiram a si mesmos, aos outros e a toda a comunidade eclesial.
Pela prática da indulgência, não só nos beneficiamos do tesouro da redenção de Cristo e dos méritos dos santos, mas podemos colaborar ativamente na purificação dos outros. Por isso, podemos receber a indulgência em favor dos falecidos na forma de sufrágio. Assim a nossa solidariedade com os falecidos não se rompe com a morte, pelo contrário se reforça e se aprofunda nessa comunicação de bens espirituais. Por causa da comunhão de todos com Cristo, ocorre um maravilhoso intercâmbio de dons e se estreita um vínculo de caridade entre os cristãos que peregrinam neste mundo e os que já faleceram. Dito de outra forma: a Igreja como boa mãe nunca abandona os seus filhos, vivos ou falecidos: os gera para a vida eterna no batismo, os alimenta durante a peregrinação terrestre, os acompanha na sua última passagem, reza por eles e se sacrifica por eles depois de sua morte. A prática da indulgência intensifica o amor fraterno, quando buscamos auxiliar os que estão adormecidos em Cristo.
A prática da indulgência também nos encoraja e nos conduz a uma maior confiança na reconciliação total com o Pai. Assim como um pecador prejudica a si mesmo e aos outros, com muito mais razão a santidade beneficia os penitentes. A exemplo de Cristo, que sofreu por nós, e em união com Ele, os cristãos procuram se ajudar uns aos outros no caminho da salvação.
Dom Julio Endi Akamine é arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba.