A crise do fim do mundo
Jesus profetizou o fim e a destruição do Templo de Jerusalém (Lc 21,5-19). Para os seus ouvintes, a destruição do templo representava o mesmo que o fim do mundo. Por isso a pergunta: quando acontecerá isso? Quais são os sinais de isso está para acontecer?
A destruição do templo, porém, não foi o fim do mundo. Ela foi um acontecimento histórico, mas não foi o fim do mundo. Mesmo assim a destruição do templo é mais do que um evento histórico: tem também um significado exemplar para os cristãos de todos os tempos, inclusive para nós que vivemos tantos anos depois.
Nós gostaríamos de saber, como os ouvintes de Jesus, quando acontecerá o fim do mundo. Gostaríamos de ter como adivinhar a sua data, mas, no fundo, essa curiosidade é um sinal do nosso medo e da nossa falta de confiança em Jesus.
Jesus nos ensina que o mundo teve seu início em Deus e para Ele caminha. Assim quando ouvimos, pensamos ou falamos do fim, não falamos do término ou da destruição. O fim, para o cristão, é o mesmo que a finalidade e o sentido. Por isso a fé nos aponta para a necessidade de nos firmar em Jesus Cristo para vencer a angústia do fim.
Outra coisa importante é a advertência de Cristo: a de que escutaremos vozes que nos dirão: “sou eu”, e “o tempo está próximo”. Em tempos de crise surgem os exaltados e os espertos que se aproveitam do medo e da insegurança. Jesus nos recomenda a não ceder ao pânico nem acreditar nos exaltados tampouco se deixar enganar pelos aproveitadores.
Por se tratar dos últimos tempos, somos chamados à responsabilidade quanto ao momento presente. Se estamos nos últimos tempos, é preciso levar a sério a nossa vida: não teremos outra oportunidade. Não se trata de proximidade de anos ou de dias que podem ser contados, mas de uma proximidade qualitativa, ou seja, cada dia que vivemos está aberto ao fim e envolto no mistério de Deus.
Todos os momentos de nossa vida, devemos vivê-los como os últimos. Assim nossa vida ganha uma seriedade enorme, mas também se reveste de uma esperança ainda maior. Sim! Porque cada minuto é decisivo para a nossa salvação e para a vinda do Reino. O nosso presente é decisivo para a nossa eternidade; os sofrimentos presentes podem nos conduzir à vida eterna.
O dever da vigilância está fundado na esperança de que nossa vida tem futuro. Se não tivesse futuro, se não estivesse destinada à eternidade, não precisaríamos de vigilância. Se a vida terminasse na morte, a nossa atitude não seria de vigilância, mas a de curtir e desfrutar o instante presente com o maior prazer possível.
O cristão é vigilante porque é animado pela grande esperança da eternidade. O futuro se aproxima, e nós já vivemos cada momento como uma abertura à eternidade. Assim preocupamo-nos para que a morte não nos encontre despreparados e em pecado mortal.
O fim do mundo não é para nós uma espécie de amanhã. Ele é para nós o sinal claro de que nós somos limitados, mas, ao mesmo tempo, que estamos abertos para Deus e para a Vida que Ele nos quer dar. Com efeito, na instabilidade deste mundo, esperamos o amanhã de Deus e do seu Reino. O fim do mundo só é ameaçador para aquele que está apegado a este mundo passageiro de injustiça.
Dom Julio Endi Akamine é arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba.