Desvendando a Filosofia (parte 1)

Por Cruzeiro do Sul

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Estimado leitor, esta abordagem se divide em duas partes. No artigo de hoje, daremos ênfase ao estudo da Filosofia na sociedade, desde os seus primórdios. Na semana que vem, destacaremos o legado de alguns pensadores da História. Para dar conta dessa missão, tomamos como referência a obra “O Pensamento Filosófico da Antiguidade”, do filósofo e escritor brasileiro, Huberto Rohden. Aliás, recomendamos esse livro, editado pela Martin Claret, a todos os educadores, independente da área em que atuem, pois traz um enfoque que foge dos clichês que rondam os livros didáticos sobre o tema, além de ampliar nossa visão sobre a real contribuição dos filósofos gregos à humanidade.

O ponto de partida está no fato de que a Filosofia sempre despertou interesse das pessoas, independente da época, classe social, poder aquisitivo ou formação intelectual ou localização. De certo, a reflexão vem e nos sentimos dominados por uma onda de questionamentos existenciais. Na verdade, podemos afirmar que “filosofar” é uma atividade cerebral que faz parte da nossa essência. Logo, em algum momento de nossas vidas, paramos para refletir sobre temas que nos angustiam continuamente. Assim, independe se a pessoa tem estudos ou nunca colocou os pés numa escola. Ou seja, a Filosofia está presente em nossas vidas, desde os eminentes pensadores, que buscam as respostas para as grandes questões que nos afetam, até o mais humilde cidadão que tenta entender o porquê de certos acontecimentos que fazem parte do cotidiano mais comum.

Logo, pensar, matutar e refletir são verbos que se traduzem numa inação que, de certo modo, pode levar a uma reação, positiva ou negativa, dependendo da idiossincrasia de cada indivíduo. No fundo, amigo leitor, buscamos, de algum modo, desvendar aquilo que os pensadores helênicos, entre 600 e 400 anos a.C, já tentavam decifrar: a matéria-prima do universo. Ou seja, buscavam a verdade absoluta das coisas. Em outras palavras, refletiam sobre o grande enigma que nos envolve até hoje: a razão da existência humana. Assim, as perguntas-chave tornam-se inevitáveis: por que estamos aqui? De onde viemos? Para aonde vamos depois do desencarne?

É exatamente nesse momento que os filósofos entram em cena para aprofundar ainda mais essa discussão, a fim de que possamos encontrar um caminho menos obscuro para nossas eternas dúvidas. Aliás, o próprio vocábulo FILOSOFIA, etimologicamente falando, é resultado da fusão de duas outras palavras gregas: Philo, que significa ‘amigo’ e Sophia, ‘saber’. Assim, temos o conceito: “Amigo do Saber” (ou sabedoria). Logo, o filósofo é aquele que busca a verdade, tendo como princípio a frase esculpida na fachada do templo de Delfos: gnôth seautón! (conhece-te a ti mesmo).

Mas, o que isso significa de fato? De acordo com Rohden, os filósofos gregos entendiam (especialmente Sócrates) que é impossível o homem conhecer o mundo exterior, sem antes se confrontar com o seu universo interior. “Se a minha felicidade ou infelicidade viesse de algo alheio a minha vontade, o mundo deixaria de ser um cosmos e se tornaria um caos”, observavam.

Para Rohden, a máxima do Oráculo de Delfos traduz toda a essência da filosofia e de muitas religiões. Tanto que tal pensamento encontra ressonância na mensagem de Cristo: “Conheceis a Verdade e a Verdade vos libertará”. Todavia, o leitor pode indagar: que verdade é essa? Como chegar a ela? Calma, isso é o assunto da semana que vem. Nesse momento, nos interessa entender a função do filósofo na sociedade. Diz Rohden: “O filósofo toma a verdade eterna, absoluta e única, como norma de sua vida individual e social”. Traduzindo: torna-se uma espécie de lanterna para guiar a sociedade, embora suas respostas nem sempre sejam assimiladas pela maioria. Não importa, pois a Filosofia é mãe de todos os saberes. Mais do que isso, inspiraram as religiões e as ciências. Bom domingo!

João Alvarenga é professor de redação