9 de julho - Apoteose da Gente Paulista em prol à Brasilidade
Adílson Cezar
Se as festividades, os congraçamentos, as reuniões de recordação e exaltação de determinadas efemérides estão obrigatoriamente suspensas para atender ao bom senso que determina a observação da quarentena, por sua vez, nada impede a manifestação do espírito cívico para divulgar os atos cívicos. O importante é o debruçar de nossa gente sobre os dados históricos acontecidos em São Paulo, em 1932, como uma fatia de nossa postura contrária à ausência da convocação de novas eleições, como pretendia e o movimento revolucionário de 1930 que levou ao poder a Getúlio Dorneles Vargas.
O Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba (IHGGS), a Academia de História Militar Terrestre do Brasil / São Paulo, a Fundação Ubaldino do Amaral (FUA) e outras entidades reunidas, celebram a distância como requer o período, mas com o mesmo destaque e ênfase para a passagem de mais este aniversário da data da eclosão da “Revolução Paulista”, ou “Guerra de Trinta de Dois”.
Importa destacar que embora vencida pela força das armas, se torna vitoriosa pela sua expressão moral. Os paulistas sentiram-se traídos, pois grande parcela destes havia apoiado a rebelião de 1930 e entregue o poder a Vargas. Agora deixados de lado contestavam diuturnamente as forças de Getúlio Vargas que permaneciam no poder e sem oportunidade de abertura de novas eleições, Câmara de Deputados e ou outros elementos de equilíbrio.
As manifestações se seguiam até que em 23 de maio, em praça pública, o conflito atingiu seu auge com a morte dos jovens Martins, Miragaia, Dráuzio e Camargo, formando com as iniciais desses nomes a então sociedade secreta MMDC. Lembramos que para a História nós (IHGGS) acrescentamos a letra “A” de Orlando Alvarenga (mineiro de Muzambinho que não faz parte da sigla porque veio a falecer posteriormente, mas o ferimento aconteceu exatamente na mesma ocasião).
Importante esse detalhe, principalmente por dois motivos: este não era paulista, mas mineiro, o que fortalece a posição de que São Paulo lutava pelo retorno à obediência da Lei e não era separatista como muitos acusavam. A manifestação é grande e contundente, visto que entramos realmente em processo bélico, luta entre irmãos.
Datas e eventos importantes que celebram de maneira expressiva esses episódios são:
a. Dia 23 de maio, dia da juventude constitucionalista com as trágicas mortes dos quatro mártires, M. M. D. C., Martins, Miragaia, Drauzio e Camargo.
b. Dia 09 de julho Início da luta e celebrado principalmente a partir da Lei número 9. 497, de 5 de março de 1997, projeto apresentado pelo deputado Guilherme Gianetti. O governador Mário Covas oficializou esse dia como feriado civil e uma das principais marcas de participação paulista para glória de nossa Nação.
c. O deputado José Antonio Caldini Crespo propôs e foi inicialmente aceito o projeto de Lei número 435 de 2003 que instituiu o Dia dos Heróis MMDCA, a ser comemorado em 23 de maio.
d. Dia 12 de agosto - Lei 13.840/2009, de autoria do deputado Major Olimpio, que instituiu o Dia de Orlando Alvarenga e dos Heróis Anônimos da Revolução.
e. Colar Cruz do Alvarenga e dos Heróis Anônimos do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba, e oficializado pelo Decreto número 46.718, de 25 de abril de 2002, do governador Geraldo Alckmin.
f. Na capital em São Paulo, um dos principais monumentos existentes é o Obelisco do Ibirapuera, com a finalidade de marcar de forma indelével a participação nesse processo de rebelião. Em seu subsolo, encontra-se um altar e em urnas especificas, os restos mortais de todos aqueles que se empenharam na luta pela “Lei e pela Ordem”. Trata-se de um monumento sagrado para todos aqueles que pelo Brasil realizam grandes feitos.
Importante destacar que os sorocabanos acompanharam e participaram com igual intensidade dos movimentos voltados ao retorno do regime constitucional. Isso se deu expressivamente, através da apresentação de seus jovens, para a condição do alistamento junto ao “MMDC”, e colocados à disposição dos regimentos sublevados do Exército, ou através da então Força Pública do Estado. Eram componentes da “Legião Paulista”. A cidade e a população participaram de forma envolvente nas campanhas “dei ouro para o bem de São Paulo”, os casais retirando e entregando seus anéis de compromisso e os substituindo pelos de ferro; economizando combustível e fabricando já naquela época álcool para substituir a gasolina que importada, não mais chegaria; nossas indústrias e oficinas se disponibilizaram no conserto e fabricação de armas para ataque e defesa, dentre os quais se destaca o Trem Blindado. Tivemos a felicidade de não termos a cidade invadida pelas tropas contrárias, pois a rendição de São Paulo aconteceu antes dessa possibilidade. Alguns pequenos fatos, que em princípio parecem sem grande importância, chamam a atenção pela consistência com se pretendia impregnar a mente de nossa gente. Por exemplo: logo após o sucesso da Revolução de 1930, o interventor federal nomeado para “Prefeito de Sorocaba”, Otacílio Malheiros, procurando dar ares favoráveis aos vitoriosos, retirou de nossa praça principal (a da Catedral) a denominação de Fernando Prestes, e a contemplou com a João Pessoa (governador morto e aliado a Vargas), o mesmo acontecendo em outros logradouros. O povo apesar de toda a pressão recebida, se manifestou, retirou em maio de 1932 à força o nome que se pretendia impor a praça. Vale a pena refazer a leitura do jornal Cruzeiro do Sul de todo esse período, que relata com detalhes bem definidos nossa postura e ações.
Nossas indústrias têxteis disponibilizaram e as moças confeccionaram as fardas de brim cáqui, sem esquecer que muitos desses trabalhos foram também ofertados pelas estudantes. De forma geral todos se agitaram, se preparando para o enfrentamento de uma guerra -- oficinas, indústrias das mais diversas, a Santa Casa, as propriedades rurais, etc. -- lembrando também que devido à nossa situação geográfica havia aqui trânsito continuo das tropas. Interessante verificar o esforço bélico no sentido do emprego do avião com o preparo de um aeroporto adequado. Como é possível perceber, o envolvimento foi geral, todos de alguma forma contribuíram e, por isso, para honrar nossos ancestrais e o que estes fizeram, nada melhor do que voltar a esse passado bastante recente e conversar principalmente com os familiares sobre a participação dos mesmos. Todos nós temos grandes motivos para orgulho -- tudo para um Brasil grande e unido.
Embora de forma tênue, aqui fica o registro de nossa lembrança ao esforço dos sorocabanos, a favor de São Paulo e do Brasil, para que a nossa Nação viva sempre em estrita obediência à Lei (a Constituição que nos agrega como Nação dentro da Lei e da Ordem). IHGGS / AHiMTB-SP / FUA / dentre outros.
Adílson Cezar é presidente do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba (IHGGS) e presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB/São Paulo)