A favor do bem, contra o mal

Por

Vanessa Tenor

 

Vanessa Tenor

Por Carlos Brickmann 

Havia amplo tempo disponível, mais de meia hora, dos quais Bolsonaro usou só nove minutos para mostrar suas ideias à cúpula da economia mundial. Nada contra falar pouco: um dos melhores discursos da História mundial, a consagração do Cemitério de Gettysburg por Lincoln, durou menos de dois minutos (“o governo do povo, pelo povo e para o povo jamais desaparecerá da face da Terra”). Mas Bolsonaro não é Lincoln, sabe disso, e não se arriscou à eloquência. Em Davos, fez um discurso simples e colocou diante do público suas ideias básicas de Governo -- que, de maneira geral, coincidem com o pensamento liberal do Fórum Econômico Mundial.

Confirmou, internacionalmente, o papel predominante de Sérgio Moro e de Paulo Guedes em seu Governo. Prometeu fazer “as reformas que o mundo espera”, “transformar o Brasil num dos melhores países do mundo para fazer negócios”, investir pesado em segurança pública para permitir que turistas se sintam à vontade para conhecer regiões como o Pantanal e a Amazônia, simplificar impostos para facilitar a vida dos empreendedores.

Salientou, enfim, a interrelação entre agropecuária e meio ambiente, um dependente do outro; ressaltou a vontade do Brasil de exercer a diplomacia sem nenhum viés ideológico; e se referiu à busca de novos mercados. Considerando-se o público a que se dirigiu e com quem o Brasil vai lidar, foi como se dizer a favor da saúde e contra a doença. Deve ter funcionado.

Aceno

Davos é uma reunião de expoentes do capitalismo; mas fazem questão de se considerar expoentes do capitalismo moderno, com preocupações ambientais e sociais. Bolsonaro fez citação específica sobre o tema: que o Brasil é o país que mais preserva florestas no mundo (há um estudo com os números, para que não restem dúvidas). Faz parte da postura moderna.

Sob nova direção

Com Jair Bolsonaro em Davos, o Brasil tem novo presidente: Hamilton Mourão, que continua despachando do gabinete de vice. Bolsonaro volta e, logo depois, faz uma nova cirurgia, para retirar a bolsa de colostomia que usa desde o atentado e religar o intestino. Embora Bolsonaro tenha pedido que seja montado um escritório para que possa despachar em seu apartamento no Hospital Albert Einstein, SP, Mourão deve continuar em exercício até que o presidente tenha alta médica e possa voltar ao Planalto.

Quanto tempo isso leva? Depende da evolução do caso. Mas não será surpreendente que demore de dez dias a duas semanas, se tudo correr bem.

Herança maldita

O eleitorado goiano derrotou os tucanos de ponta a ponta: elegeu para o Governo o oposicionista Ronaldo Caiado, contra José Elinton, o tucano candidato à reeleição, e surrou exemplarmente o tucano-chefe, Marconi Perillo, que se julgava favorito na disputa pelo Senado (no lugar dele, quem se elegeu foi o jornalista Jorge Kajuru). Mas as marcas do tucanato ainda estão vivas: o governador Ronaldo Caiado, diante do déficit fiscal, causado pelo aumento das despesas públicas nos governos anteriores, teve que decretar situação de calamidade financeira, por 180 dias. Só assim poderá combater o aumento das despesas públicas e reduzir o déficit que herdou.

O tempo tudo encobre

Um dos homens mais influentes do Brasil, Jorge Serpa, que atuou na política desde o segundo governo Vargas até o segundo governo Fernando Henrique (e talvez no primeiro de Lula), morreu neste domingo, dia 20, aos 96 anos. Serpa foi possivelmente o principal assessor de Roberto Marinho desde o início do regime militar. Quem o conhecia preferia não se referir a ele pelo nome (indício de respeito por sua atitude discreta): era O Onça, um mago capaz de conversar com todos os envolvidos em qualquer questão.

Sinal dos tempos: não havia políticos no sepultamento. Nem integrantes da família Marinho. Nem representante das Organizações Globo.

Serpa deixou viúva dona Vicentina, neta do ex-presidente Eurico Dutra.

Os dias de hoje

Serpa influiu poderosamente em todos os veículos de imprensa de Roberto Marinho. Hoje não há ninguém, nos meios de comunicação, que se aproxime de seu porte. O jornalista Fernando Albrecht, em seu ótimo blog (http://fernandoalbrecht.blog.br/), descreve a imprensa, hoje: “Foram-se os tempos em que as direções dos jornais controlavam as redações. Há muitos anos as direções perderam o controle das redações. Pior: não sabem lidar com isso, não sabem recuperá-lo. Todos falam línguas diferentes e o resultado -- óbvio -- é a formação de nichos ou de tribos que controlam até territorialmente um determinado espaço das redações.”

O próximo passo

Do promotor Roberto Livianu, sobre corrupção empresarial: a pena mais importante para empresários corruptos é fazer com que percam suas ações.

Carlos Brickmann é jornalista e escreve para o Cruzeiro do Sul.