Adolfo Frioli e sua história de amor ao pé da montanha
Vanderlei Testa
“Pé da montanha sagrada do Araçoiaba” é onde vive o Adolfo Frioli e família. Um lugar especial para uma história de um dos mais destacados professores, historiadores e museólogo das coisas de Sorocaba. Frioli é um mestre com a memória intacta de sete décadas de anos de uso ininterrupto, pois acredito que nasceu assim. Conheço poucos com tal dom de sabedoria em amar histórias, gente e detalhes de uma cidade e suas circunvizinhas. Nunca fui à sua casa para ver os arquivos fotográficos e livros do Adolfo, mas, imagino por que mudou de casa do centro de Sorocaba, quando o conheci, há 40 anos, para se abastecer mental e fisicamente aos pés da montanha sagrada.
Lá em Araçoiaba, a sua paixão vai dos fornos de Francisco Adolfo de Varnhagen, das passagens dos tropeiros, do castelo inacabado do Cônego André Pieroni e do morro de minério de ferro que atrai ovnis. É lá, que o pôr de sol dá a imagem mais linda do entardecer e faz o Adolfo Frioli sentar na varanda com a Ida, sua esposa e se emocionar.
Gratidão é uma palavra que circula no sangue do Adolfo como ingrediente de sua alma de amor e generosidade. Sua página no Facebook tem um depoimento que atesta essa minha afirmação. “O Dr. Rui Leite Almeida Branco sempre me atendeu muito bem como médico do INAMPS na rua da Penha. Ainda guardo na memória seu jeito peculiar de trabalhar com seus pacientes, com carinho e muito respeito, principalmente com os idosos, explicando bem o receituário. Ainda tomo, até hoje, um medicamento que ele me receitava. Acompanho sua vida desde estudante de medicina no Rio de Janeiro e, sei que é um excelente médico. Parabéns aos seus pacientes”.
Adolfo foi amigo do historiador Aluísio de Almeida, o monsenhor Castanho. Frioli e o santo padre do casarão na rua Rui Barbosa passaram muitas horas juntos proseando sobre a nossa história. Resultado: Frioli sempre transmitiu em palestras, entrevistas e centenas de escritos que faz nas melhores revelações da cidade e sua gente, contadas pelo escritor sacerdote.
Ainda em agosto, ele me dizia que o aniversário de Sorocaba não teria 366 anos. E justificou o porquê da data não ser essa, que ele chama de desconfiança “supositícia”.
Frioli é um apaixonado também por filatelia. Seus selos fazem parte de uma coleção das mais expressivas do Brasil. Seu grande amigo, o saudoso artista plástico José Maria Monteiro Martins, falecido recentemente em Sorocaba, deixou um legado de ilustrações em selos e quadros. Coloco aqui, minha homenagem ao leitor e pai do filatelista Silvio Rosa Santos Martins. O José Maria foi um ícone do Clube Philatélico de Sorocaba. Um dos filatelistas com Adolfo Frioli, Gilberto Fernando Tenor, José Benedito de Almeida Gomes e tantos outros abnegados colecionadores de selos.
Adolfo Frioli tem orgulho dos pais e se espelhou neles para seguir a sua vitoriosa carreira como um profissional competente. Filho de operários têxteis da Votorantim e da Fábrica Santo Antônio, Adolfo Frioli traz consigo a sua melhor herança paterna e materna: integridade e retidão. Com os seus estudos, se destacou como autor de livros e parceiro de várias obras com editores conhecidos e historiadores de Sorocaba. Adolfo Frioli é um pesquisador nato também de temas religiosos, como a vida de João de Camargo, uma das pessoas que deixou na cidade muitos ensinamentos de bondade. Em março de 2000, Frioli esteve em Brasília como coautor do saudoso Zeca, médico José Carlos de Campos Sobrinho, para o lançamento do livro “João de Camargo de Sorocaba - O nascimento de uma religião”.
Um dos pontos de vista histórico que o Frioli defende é o seu amor à Montanha Sagrada do Araçoiaba, como berço natural do povoamento português com a Vila de N.S. do Monte Serrat. Ele tem muitos manuscritos sobre esse tema que o fascina na beleza da terra do bandeirante Baltazar Fernandes.
É casado há 50 anos com Ida Frioli, sua amada e eterna namorada. Este ano Frioli festejou as suas Bodas de Ouro junto à família e relembrou em fotos publicadas na rede social, desde o dia do seu sacramento do matrimônio em 1969. Adolfo é filho de Pedro Frioli e Dorothea Garcia. Sua mãe é homenageada com o seu nome na biblioteca que ele mantém em casa, como a pérola preciosa da sua “ostra” das águas do morro do Araçoiaba. Adolfo e Ida são pais da Adriana, Luiz e do Paulo Frioli. Como avós, eles já estão ensinando o neto João Vitor, com os seus 13 anos de idade, a gostar da natureza e das histórias e das prosas sentados ao pé da montanha.
Entre tantas lembranças do Adolfo Frioli, me lembro da sua gestão frente ao Museu Histórico Sorocabano, dentro do Parque Quinzinho de Barros. A melhor administração desse museu que a cidade já teve e, que acompanhei de perto em preservação de seus objetos e história. Fábio Lucas da Cruz desenvolveu um trabalho sobre a criação do Museu Histórico Sorocabano contemplando as palavras do historiador e museólogo Adolfo Frioli, publicado durante as comemorações dos 25 anos de existência do museu, no início dos anos de 1980. Frioli escreveu um livro “Museu Sorocabano há 25 anos mostra sua história”.
A luz do sol que brilha nos jardins da casa da Ida e do Adolfo fazem florescer o coração colorido com as delicadas mãos do casal. Elas regam todos os dias esse jardim com o dom da vida que receberam e agradecem por viverem aos pés da montanha, como vi em uma das imagens da família em preces nas refeições e, no olhar doce de um sábio e humilde historiador, que ganhou um samba enredo no Carnaval com o seu nome e sua história.
Vanderlei Testa jornalista e publicitário escreve às terças-feiras no Jornal Cruzeiro do Sul e aos sábados no www.blogvanderleitesta.com e www.facebook.com/artigosdovanderleitesta