Aprendendo com o Eclesiastes

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Edgard Steffen

Há tempo para todo propósito debaixo do céu.

(Eclesiastes 3:1).

Neste “tempo de afastar-se de abraçar” confio no velho e bom jornal impresso. Ele permite meditar, ruminar, reler e desconfiar das intenções de quem escreve, antes de lhes dar crédito. Fakenews -- céleres nas redes sociais -- ficam mais fáceis de serem identificadas. Não me julguem mal, pensando que também defendo voto impresso, anacronismo que anda rondando o cenário político brasileiro. Confio nas urnas eletrônicas.

Em “tempos de espalhar pedras” palpites voam por aí. Não aguento mais estatísticas. Hoje em dia, é o que mais se vê na mídia. Projeções ou constatações sobre crescimento, inflação, desemprego, super-ricos, superpobres, valor do dólar, casos e óbitos por Covid19, leitos de UTI, ajuntamentos ou distanciamento social etc...símbolo matemático % e suas variantes por mil, por dez mil ou por 100 mil invadem o noticiário. Difícil encontrar matéria jornalística sem comparações estatísticas. Algumas delas, de acordo com interesses de quem as publica, viram matemágicas. Provam o improvável. Acabam dando razão a Daniel Huff, autor do clássico “Como mentir com estatística”. A bem da verdade, livro que não li.

Tempo de saltar de alegria. Otimista por vocação, encontro preciosidades em meio à desgraceira exacerbada nas manchetes e reiterada nos textos. Coluna de poucos centímetros quadrados, meio escondida no jornal, relata o progresso das obras de saneamento dos afluentes do rio Pinheiros. Já se pode sonhar, a médio prazo, com águas aeróbicas e novo espaço paisagístico/turístico a honrar a importância da capital econômica do Brasil. Ouso sonhar com a despoluição do Tietê. O prazo será longo. Despoluído o trecho paulistano, cidades ribeirinhas terão maior facilidade para saneá-lo de seus dejetos. Não alcançarei, mas meus netos verão a cachoeira de Salto (SP), como a conheci em minha mocidade. Em vez da densa espuma de odor nauseabundo, o leve espumejar com cheiro de água borrifada.

Tempo de falar. Ou escrever. De Carlos Alberto Di Franco¹, bela análise crítica da tendência midiática a propagar só o que é ruim. O mote “Bad news are good news” domina a mídia. O bom jornalismo não pode ser de oposição por conveniência. Nem de concordância ingênua. Deve ser investigativo e propositivo. Incluir notícias boas. Excesso de desgraça, paradoxalmente gera conformismo.

Tempo de edificar. Benjamin Netanyahu saiu na frente para derrotar o Covid19 em Israel. Até o presente já protegeu mais de 72% da população acima de 60 anos e garante que, em março, terá imunizado toda a população. Não porque governa território pequeno e menos de 10 milhões de habitantes. É porque não tergiversa quando trata da sobrevivência dos cidadãos. Para você melhor entender a eficiência de Israel, leia artigo escrito pelo rabino Ruben Sternschein². Na tradição judaica, a vida se antepõe a tudo. O Pentateuco é rígido em relação aos alimentos permitidos e proibidos. Os rabinos do Holocausto, nos campos de extermínio, suspenderam a aplicação das proibições mosaicas porque a escassez de comida não podia diminuir as difíceis chances de sobrevivência. Vida é dádiva de Deus. Os sobreviventes foram importantíssimos para o tempo de derribar e deitar fora novas tentativas de implantação de regimes bárbaros.

Tempo de matar e tempo de curar. Vivemos dias em que um vírus terrível veio para matar. O mesmo Deus que permite a existência do novo coronavírus, deu ao homem inteligência para criar vacinas destinadas a combatê-lo. Triste constatar vaidades políticas retardando o tempo de curar.

Tempo de guardar e tempo de deitar fora. Guardem na memória os comportamentos danosos. Nas próximas eleições, use seu voto, livre e consciente, para deitar fora os que ampliaram o tempo de matar pelo retardo do tempo de curar

1 -- Di Franco, C.A -- “Cansaço do negativismo” Estadão, 11/01/2021

2 -- Sternschein, R -- “Vacinação, política e religião uma leitura judaica” idem, 12/01/2021

Edgard Steffen é escritor e médico pediatra. E-mail: edgard.steffen@gmail.com