Aprender brincando: um relato sobre a aprendizagem lúdica
Catarina Hand com Aline Bertolli
Nosso desafio era fazer uma intervenção em uma turma de segundo ano, com 23 alunos. A sala era vista como “problemática pelos corredores da escola”. Muitos alunos com dificuldades de alfabetização e com problemas de comportamento, era o que diziam.
A primeira observação desta sala despertou-nos para várias reflexões a respeito do processo ensino-aprendizagem. Ficamos nos questionando se era adequado e produtivo colocar todas aquelas crianças tão potentes e criativas dentro de uma sala, enfileiradas em carteiras. A escola era enorme e nos perguntávamos se projetos coletivos e de eixos transversais não poderiam ser a solução para “aquela sala problemática”.
No decorrer do semestre tiramos as crianças da sala e as levamos para o pátio, para o laboratório, para o parque, para uma cozinha improvisada. Fizemos gincanas, brincadeiras, preparamos um bolo e, claro, lemos e escrevemos muito. Fomos nos conhecendo, ajustando as demandas dos alunos em diferentes formatos de trabalho, experimentamos e vimos o que funcionava e o que não fazia sentido. Segundo Paulo Freire (patrono da educação brasileira), ensinar é aprender, e juntos fomos todos aprendendo.
O processo de aprendizagem precisa ser motivador para que a criança se interesse e se envolva. Trazer aspectos do cotidiano para dentro da sala de aula e propor atividades de forma lúdica podem ser saídas interessantes. Esse tem sido o grande desafio da educação e cabe a nós, professores, sermos agentes de transformação dentro das instituições que muitas vezes já estão cristalizadas e arraigadas na cultura de ensino tradicional.
Em uma simples oficina de culinária conseguimos trabalhar questões relativas a diferentes disciplinas, e o interesse das crianças em aprender uma receita é muito maior do que se apenas tivéssemos lido-a com eles. Nesse momento envolvemos a família, os professores de outras salas, os funcionários da cozinha, e, nesse sentido, a troca se torna mais rica e proveitosa. Crianças aprendem melhor quando vivenciam o processo.
Buscamos, por meio das atividades desenvolvidas durante o semestre, nos colocar no processo junto às crianças, tentando compreender suas dificuldades, seu contexto social, suas emoções e sempre estimulando suas autonomias no processo de construção do conhecimento. Em alguns momentos, ouvir o que elas estavam sentindo nos ajudaram a nortear o caminho que deveríamos seguir e isto facilitou a compreensão dos motivos daquela criança estar com dificuldades em determinados assuntos.
Sabemos que a realidade dentro da escola pública não é das mais favoráveis. Faltam recursos, os professores não são valorizados e muitos problemas surgem diante dessa situação, mas o fundamental é que possamos romper as barreiras que nos são colocadas e diante das dificuldades encontrar soluções criativas para que possamos transformar a educação no Brasil.
Para Piaget (epistemólogo suíço), o jogo envolve não apenas uma forma de desafogo ou entretenimento para gastar energia das crianças, mas um meio que contribui e enriquece o desenvolvimento intelectual. Sabemos que o brincar é algo inerente às crianças e se conseguirmos fazer com que elas estabeleçam uma relação entre brincar e aprender, podemos facilitar o processo de ensino tornando-o significativo. Para isso é preciso muito envolvimento por parte do professor, pois transformar o ensino tradicional vigente não é uma tarefa simples, exige, sobretudo, desejo, determinação e coragem.
Catarina Hand é mestra em Educação, professora e coordenadora do subprojeto do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência - PIBID/Pedagogia na Uniso. E-mail: catarina.hand@prof.uniso.br. Aline Bertolli é aluna do curso de Pedagogia e bolsista do subprojeto PIBID/Pedagogia na Uniso.