Cidade para todos
Marcelo Augusto Paiva Pereira
A matéria publicada dia 8 deste mês neste jornal, que trata do empréstimo de US$ 56 milhões para obras públicas, merece alguns comentários à luz da urbanização pretendida pela municipalidade.
A mencionada matéria aponta obras de macrodrenagem e infraestrutura no bairro Nilton Torres e de melhorias em trechos da malha rodoviária urbana. São necessárias, mas insuficientes para a finalidade de embelezar a cidade.
Uma bela cidade exige mais intervenções. A infraestrutura urbana se constitui de redes de água, luz, gás, esgoto, galeria de águas pluviais, internet, telefonia, calçamento de vias públicas, delegacias de polícia, postos policiais e de saúde, creches, escolas, habitações populares, transporte público, serviço de coleta de lixo e outros serviços e equipamentos públicos que deem suporte à vida diária dos habitantes. Investir em infraestrutura urbana é o mesmo que redesenhar toda a cidade, mesmo que seja por recortes urbanos.
Aumentar, alargar ou redesenhar as vias públicas são insuficientes à solução dos gravames da mobilidade urbana, devido aos fluxos crescentes de veículos de passeio e de transporte. Existem, entretanto, intervenções urbanas pensadas nos bancos acadêmicos das faculdades de arquitetura e urbanismo que podem ser implantadas sob a forma de recortes urbanos em vários trechos da cidade.
O Projeto “MetroSur”, implantado na região metropolitana de Madri (Espanha), criou centralidades urbanas em municípios ao sul dessa capital, os quais foram integrados uns aos outros por uma linha de metrô e um anel viário para favorece-los pelo transporte público. Um extenso corredor viário os uniu à capital.
Os moradores desses bairros puderam habitar, trabalhar, prestar serviços e ter lazer sem precisarem ir à capital. A integração desses bairros reduziu os fluxos de transporte, aumentou as ofertas de emprego e de trabalho, ofereceu mais espaços ao lazer e facilitou o acesso aos serviços de saúde e educação.
“Boulevards” para o passeio público em zonas mistas -- comércio e habitação -- também são bem-vindos. Nesses espaços públicos são construídos canteiros ajardinados e floridos, bancos e quiosques de madeira (ou outro material), vegetação abundante (arbustos ou árvores pequenas) e espaços livres para a mobilidade das pessoas, que aí comparecem para as compras e o lazer.
A iluminação pública também os acompanha, com projetos bem elaborados para a segurança e embelezamento do local. Os acessos aos veículos são proibidos ou, excepcionalmente, limitados aos de emergência ou aos dos moradores desses trechos urbanos.
Edifícios-garagem em locais estratégicos, como são as avenidas e ruas próximas de centros comerciais ou de conjuntos habitacionais populares, também contribuem para a redução dos fluxos de veículos nas vias públicas. As vagas também podem ser alugadas por mensalistas, para guardar os veículos ou usar outros meios de transporte (ciclovia ou ônibus).
Concluindo, a proposta da municipalidade carece de maior aprofundamento em infraestrutura urbana. Outras intervenções, se implantadas sob recortes urbanos bem elaborados e distribuídos pela cidade, transformá-la-ão em uma cidade para todos. Nada a mais.
Marcelo Augusto Paiva Pereira é arquiteto e urbanista.