Colcha de Retalhos

Por

Crédito da foto: Vanessa Tenor

Crédito da foto: Vanessa Tenor

Edgard Steffen

O Estado é laico, mas esta ministra é terrivelmente cristã. (Damares Alves -- Ministra dos Direitos Humanos)

Em nome do

Fernando Henrique Cardoso foi entrevistado no último Manhattan Connection 2018. Se o sono não reduziu minha capacidade em guardar o que foi dito, creio tê-lo ouvido dizer que tinha 75% de esperança que o novo governo consiga tirar o País do marasmo a que foi jogado. Num rápido pinga-fogo, em resposta a outro quesito deixou escapar um “graças a Deus!”.

Da importância de ser o primeiro

O Capitão Deputado, do baixo clero segundo o jargão jornalístico, teria chegado à vitória por ter sido o primeiro a captar o conservadorismo do eleitor brasileiro e sua insatisfação com os “avanços” comportamentais do lulopetismo. Antes dele, o jornalista Boris Casoy teve a mesma percepção. Há 33 anos (1985), ao entrevistar FHC, postulante favorito à Prefeitura de São Paulo, de repente disparou a pergunta “O senhor acredita em Deus?”. O desconforto do candidato ficou evidente. O histriônico Jânio Quadros faturou a eleição, com direito a espirrar inseticida na cadeira onde o favorito sentara.

O Estado é laico. A Ministra, nem tanto

A eleição, pelo menos na retórica, trouxe de volta governantes partícipes da civilização judaico-cristã. A República, influenciada pelo Positivismo, estabeleceu a laicidade do Governo, mas deu ao povo liberdade e direito de crer (ou, descrer) sem ancorá-lo a qualquer sistema religioso oficial. E assim deve continuar.

Deus, Pátria, Família

Assisti à posse dos Ministros. O nome do Altíssimo foi repetido como prece à governabilidade. Quase todos mencionaram esposas -- entenda-se família tradicional -- afetadas pela dedicação aos trabalhos eleitorais. De antemão pediram desculpas pelos sacrifícios que irão impor às famílias para que possam cumprir agendas ministeriais.

Feijoada e vinho nacional

De minha sobrinha-neta Ariane Steffen recebi fotos. Orgulhosa, Ariane representou Olavo de Carvalho, seu tio pelo lado materno, na posse de Bolsonaro. Assim como as canetas bic (menos de R$1,00 cada), nada de ravióli de lagosta ou bacalhau com chanteles, pratos regados a uísque e champanhe na noite dos guardanapos de Sérgio Cabral & Cia. Nem o Romanée-Conti, safra 1997 -- vinho mais caro do mundo -- da posse do Lula. Prosaica feijoada e vinho da Serra Gaucha foram oferecidos aos convivas. Sinaliza . Vão endurecer com a gastança.

Amigos

Ter amigos é melhor de bom, como diz o caboclo. O ortopedista Dr. Mario Santiago, marceneiro nas horas vagas, recuperou mesinha decorativa que trouxemos da Ilha de Capri. Santiago é amigo surpreendente.

Espírito natalino

Uso este espaço para agradecer os votos de Boas Festas recebidos. Destaco duas mensagens. Antônio Pontes, escritor, lembrou-nos que o Natal é acontecimento dos extremos: “Extrema entrega de uma mãe, extrema generosidade de um pai para a extrema presença divina no ambiente humanoà para fazer-nos filhos do Excelso Pai”, condição que nos torna irmãos. Do poeta publicitário Celso Luiz Marangoni, dois preciosos textos. O emocionante relato do 1º Natal sem a presença de sua mãe. E a visão poética de Gente que conversa com passarinho como São Francisco de Assis, ou se enche de portas, problemas, reuniões em prosas urgentes. Mas só consegue ser mais gente quando encontra nos outros o rosto claro do Amor do Autor de tanta genteà que vem de mansinho no Natal.

Edgard Steffen é médico pediatra e escreve aos sábados neste espaço -- edgard.steffen@gmail.com