Consumo & tecnologia

Por

Wilton Garcia

O campo contemporâneo da comunicação e da cultura no Brasil, como área de conhecimento acadêmico, auxilia na leitura crítica sobre práticas socioculturais na produção de informação. Essa última vincula-se às tecnologias emergentes, atualmente, atenta à produção de conteúdo impactante da cultura digital.

Então, é possível verificar a perspectiva capital do consumo hipermidiático no País? O objetivo aqui é destacar o uso de dinâmicas estratégicas do consumo como fator prioritário (ou de privilégio) no acesso à informação diante de embates atuais.

Isso provoca “novos/outros” saberes para produção de conhecimento, produção de subjetividade e produção de informação, mediante aos estudos contemporâneos, evidenciando o encontro de consumo e tecnologia. E isso faz parte da pesquisa “Comunicação, consumo e diversidade: estudos contemporâneos”, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da Universidade de Sorocaba (Uniso).

Cada vez mais, situações complexas desafiam o pensar a respeito da natureza humana e das tecnologias emergentes, cuja experiência humana vincula-se à tal cultura digital longe de fake news ou pós-verdade. Conforme a obra Acontecimento (Zahar, 2017), do filósofo esloveno Slavoj Zizek, o espaço público hoje está detalhado, em razão da exposição hipermidiática do privado. E o protagonismo hipermidiático do sujeito elege a intensidade do consumo como fenômeno digital da atualidade.

Por exemplo, há uma relação de mediação entre o fato, a notícia e o sujeito, ao examinar o que ocorre na internet, bem como no jornal, na publicidade, no rádio, na TV etc. A internet promove a interatividade das pessoas com a confecção, publicação e disseminação de postagens e comentários virtuais.

Contudo, vale a pena ressaltar as condições do consumo brasileiro, sobretudo diante do inseparável binômio mercado-mídia. Ou, paradoxalmente, seria (in)viável separá-los, agora.

Consumir requer perceber a diversificação de escolhas, decisões, interesses, opções e preferências de qualquer consumidor/a. O que estimula e assina presença, frequência e pertença de determinada classe econômico-social entre ricos e pobres, de acordo com Zigymum Bauman no livro A riqueza de poucos beneficia todos nós? (Zahar, 2015).

Inevitavelmente, a extravagância do consumismo gera desigualdades econômica, identitária, social e/ou cultural e, de modo antagônico, confirma a prioridade de quem consegue atender ao chamado (high level) do mercado-mídia. Ser primeiro (Prime), singular, particularmente especial, seria reconhecer o privilégio na vez. Obter o posicionamento extraordinário de um peculiar atributo VIP Very Important Person.

Com consumo, tenta-se evitar as imagens de falta, ausência, mazela, miséria, precariedade... A sociedade sempre foi separada por ambientes de exclusividade, mediante a cruel ostentação. Logo, tenta-se eliminar (de modo irônico) o desconforto da presença de incapazes de se projetar no mercado-mídia. São as minorias: do periférico ao marginal (e vice-versa). Porém, há uma enorme violência contra aqueles/as que possuem dificuldades econômicas e financeiras e não conseguem atingir o chamamento publicitário do mercado-mídia. Isso fortalece a dinâmica do consumo a serviço de tangenciar a expressão de mais-valia.

A sociedade contemporânea arquiteta gestos de inclusão e exclusão (econômica, identitária, social e/ou cultural), como artimanha na intensidade do ideal capitalista. Embora o capitalismo enfoque somente na lucratividade.

No entanto, alteridade, diferença e diversidade estratificam a caracterização do perfil a ser explorado pelo mercado-mídia para o consumo entre divulgar para... e assumir a lógica de divulgar com... Por isso, as alternativas se multiplicam e acabam servindo como moeda de troca para o consumo no País e no mundo. Assim as coisas são!

Wilton Garcia é doutor em Comunicação e professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da Uniso.