Crematórios x segunda onda da pandemia

Por

Francisco Carlos da Silva

Com o aumento crescente da causa-mortis proveniente do N-Covid 19, tentaremos com base em pesquisas e no que está posto, analisar algumas questões relacionadas ao futuro destino das vidas ceifadas em função da pandemia.

No Brasil, existe o sepultamento em cemitérios -- que consistem em enterrar diretamente no solo (inumação) ou guardar os corpos em túmulos feitos de alvenaria que podem ser no subsolo ou aéreos (tumulação) -- e o processo de cremação, que consiste em colocar o corpo juntamente com o caixão em um forno com temperaturas em torno de 1.000ºC.

Em um processo normal o cadáver passaria por quatro etapas para sua total decomposição: período de coloração, período gasoso, período coliquativo e período de esqueletização. As autoridades competentes calculam um prazo médio de quatro a cinco anos para a completa decomposição, no caso de um adulto, considerando que a temperatura, umidade, aeração e tipo de solo sejam os corretos.

Caso esses pilares não estejam sincronizados poderemos sofrer processos conservativos como mumificação ou saponificação e dessa forma os corpos ficarão sepultados por muito mais tempo (https://www.jornalcruzeiro.com.br/opiniao/artigos/cemiterios-pos-pandemia/) .

Segundo pesquisa de campo e laboratório realizada no cemitério de Itaquera no município de São Paulo (https://www.jornalcruzeiro.com.br/opiniao/artigos/cemiterios-pos-pandemia/) , foi constatada a contaminação do aquífero freático por microrganismos patogênicos, como bactérias (coliforme totais e coliformes fecais), oriundos da conservação dos corpos.

Nos últimos dias estamos presenciando um aumento significativo de internações e sepultamentos tanto em São Paulo quanto no restante do País, o que possívelmente irá colapsar tanto o sistema de saúde quanto o sistema funerário.

Segundo o protocolo do Ministério da Saúde, o corpo a ser sepultado necessita seguir alguns ritos que passam por envolve-lo em lençois, sacos plásticos impermeáveis, embeber o caixão com álcool 70ºGL ou água sanitária (NaClO) e, em alguns casos, ainda, envolver o caixão com plástico tipo filme. Todo esse procedimento é para evitar a saída do vírus e consequentemente evitamos também a entrada de ar, que mantém vivas as bactérias responsáveis pela decomposição do corpo, prolongando dessa forma o corpo em sua morada final.

A partir de agora, teremos um empasse muito grande: sepultamos ou cremamos? Se sepultarmos, dependendo do tamanho ou de como são tratados pelas prefeituras a administração dos jazigos, teremos falta de espaço, tendo dessa forma que abrir novos empreendimentos ou solicitar auxilio de cidades próximas.

Uma outra questão é quanto ao número de sepultados em um mesmo período. Se não houver nenhum sistema para conter a grande quantidade de necrochorume que estará percolando ao mesmo tempo, com certeza, teremos sérios problemas ambientais a médio e longo prazo. Necessitamos urgentemente, principalmente nas grandes cidades, de processos que canalizem todo esse material para que possa ser tratado corretamente.

No caso da cremação, as maiores dúvidas estariam assentadas na aprovação dos familiares e em saber se nossos crematórios estão em consonância com as legislações ambientais estatuais quanto à emissão de gases.

Francisco Carlos da Silva é químico e professor das secretarias Estadual e Municipal da Educação de São Paulo, mestre em Análise Geoambiental pela Universidade de Guarulhos e doutor em Ciências Ambientais pela Unesp-Sorocaba.