Escola, volver!
Carlos Brickmann
A nova escola militar, promessa de Bolsonaro, já existe -- mais como sonho, já que sala de aula, que é bom, ainda não há nenhuma. Mas a pedra fundamental foi lançada por Bolsonaro nesta semana, ao lado de Paulo Skaf, presidente da Fiesp, entidade que deu de presente o projeto. Presente com nosso dinheiro, claro: os impostos que sustentam o sistema S, maior fonte de renda dos sindicatos patronais. São como o Imposto Sindical, em boa hora eliminado para os sindicatos de trabalhadores -- e mantido para os patronais.
Já se sabe algo a respeito do novo tipo de escola: corte de cabelo de rapazes e moças, tipo de calçado. Só falta construir a escola e dar ensino de boa qualidade. Estará de volta o “vovô viu a uva”, da ótima cartilha Caminho Suave, que ajudou na minha alfabetização, ou haverá sistemas diferentes?
O detalhe curioso é o patrocínio do projeto pela Fiesp, que busca ficar próxima de Bolsonaro. Há pouco mais de um ano, Paulo Guedes prometia “enfiar a faca” no sistema S, como fez com o imposto sindical. São quase R$ 20 bilhões por ano. Boa parte é muito bem aplicada: ótimas escolas técnicas, ótimos clubes, ótimos cursos, ótimo trabalho de difusão cultural a baixo custo para os funcionários. Seria lamentável deixar de contar com esse dinheiro. Mas outra parte dos recursos serve para fazer com que um presidente de sindicato ou associação tenha elevador privativo, viaje de helicóptero de um bairro a outro, faça sua campanha eleitoral. Nós pagamos.
O grande sonho
Para realizar o sonho de governar São Paulo, Skaf já foi até do Partido Socialista Brasileiro. Hoje é do MDB, mas talvez vá para o Aliança, partido de Bolsonaro. Foi três vezes candidato ao governo, sem ter chegado ao segundo turno. Em compensação, na política sindical é um vitorioso: está na presidência da Fiesp desde 2004, e conseguiu costurar apoios que juntam aliados e antigos adversários. Espera, com Bolsonaro, realizar seu sonho. Bolsonaro não espera votos de Skaf, mas sabe que para criar seu partido o apoio de Skaf é fundamental. Skaf tem capilaridade; existe em todo o Estado.
O vírus na economia
Na volta do feriado lunar, anteontem, a Bolsa de Xangai abriu com queda de 9%. Mas as providências do governo chinês parecem ter funcionado: foram injetados cerca de US$ 175 bilhões no open market, proibida a venda de ações a descoberto, suspensas as negociações com futuros. A Bolsa rapidamente se recuperou. Nova York foi bem. Mas só se saberá mesmo a tendência a partir de hoje. Palpite: a economia aguentou o tranco. Mas, se o combate ao coronavirus enfrentar dificuldades, muda todo o cenário.
Esvaziando o vazio
Há coisas que só aqui acontecem: Onyx Lorenzoni, neste fim de semana, assistiu à demissão de dois funcionários de confiança. Os jornais dizem que ele, embora esvaziado por Bolsonaro, fica no governo. Mas é injusto dizer que Bolsonaro esvaziou Lorenzoni. Como seria possível esvaziá-lo?
Evitemos injustiças: não é só no Brasil que certas coisas acontecem. Na Inglaterra, Churchill dizia de seu adversário Clement Attlee: “Um carro vazio estaciona em frente ao Parlamento. Dele desce Sir Clement Attlee”.
Low cost, só que caro
Lembra daquele papo-aranha de que as empresas aéreas iriam baixar a passagem caso pudessem cobrar por qualquer bagagem transportada? OK. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) ainda não percebeu que o preço subiu. Com a chegada ao Brasil das empresas aéreas de baixo custo, low cost, elas criaram uma nova norma, bem própria: de acordo com a Anac, o passageiro pode transportar até 10 kg de bagagem de mão, sem cobrança. Duas aéreas low cost, a Norwegian e a Jet Smart, exigem que os 10 kg caibam debaixo do assento. Se não couberem, tarifa nelas. A Norwegian cobra R$ 42,95 e a Jet Smart até R$ 143,00. E a Anac? Vai bem, obrigado.
Carlos Brickmann é jornalista. E-mail: carlos@brickmann.com.br