Filmes da Netflix: ‘Gandhi’

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Gandhi (Ben Kingsley), exemplo de nacionalismo construtivo. Crédito da foto: Divulgação

Gandhi (Ben Kingsley), exemplo de nacionalismo construtivo. Crédito da foto: Divulgação

Nildo Benedetti - nildo.maximo@hotmail.com

Em 1983, o inglês Richard Attenborough dirigiu este filme sobre a vida de Mahatma Gandhi, o homem que, de forma não-violenta, contribuiu decisivamente para tornar a Índia independente do domínio britânico.

Tomando por base conceitos de pensadores como Freud, Norberto Bobbio e Yuval Harari, escreverei o que filme sugere sobre o nacionalismo.

Freud ressaltou que uma forma de desigualdade inata e irremovível dos homens é sua tendência a se classificarem em dois tipos, o dos líderes e o dos seguidores. Esses últimos constituem a vasta maioria; têm necessidade de uma autoridade que tome decisões por eles e a quem podem até mesmo devotar submissão ilimitada.

Ideias como nacionalidade, patriotismo, religião etc. são formas de identificações entre os membros de determinada comunidade e podem ser empregadas pelos líderes para implementar valores positivos de solidariedade ou similares. Mas, podem também ser utilizados por líderes de qualquer ideologia política ou religiosa para angariar adeptos em um projeto pessoal de poder, tirando proveito da tendência humana à agressão, à violência e ao ódio -- tendência a que Freud chamou de pulsão de morte.

É a pulsão de morte inata do ser humano que, devidamente apropriada pelos líderes, tornou e torna possível a série infindável de conflitos sangrentos da História pelos mais variados motivos. Atiçando a virtude do patriotismo de seguidores, esses líderes criaram a doutrina do nacionalismo, que descambou no desprezo e no ódio às outras nações e aos seus próprios compatriotas que não compartilham suas ideias. Tornam-se irracionalmente violentos.

Escreve Freud que a pulsão de morte pode ser disciplinada pela repressão, pela sublimação (substituição da agressão por atividades socialmente aceitas, como esporte, estudo, religião, arte etc.) e seu oposto, o amor. Por isso, Bobbio afirma que o sentimento nacional, entendido como dedicação à pátria, não está em oposição à fraternidade e à solidariedade universais. Esse amor não se manifesta por palavras, mas pelo amor a tudo que está na Pátria e a todos os seus cidadãos, independentemente de etnia, crença política e religiosa, sexo, estrato econômico e social etc. No plano interno, proporciona consciência de sua unidade mediante a atribuição a todos os indivíduos dos mesmos direitos e, por isso, está relacionado com a democracia. No plano internacional, o princípio da autodeterminação das nações permite estabelecer uma política fundamentada nos interesses nacionais. Como na atualidade as respostas às ameaças ao meio ambiente, questões econômicas, efeitos da inteligência artificial, pandemias, migração etc. no interior de cada nação dependem diretamente das outras nações, quem realmente ama sua pátria é também globalista. É o que afirma Harari.

Embora criado na crença do Hinduísmo, Gandhi procurou a união de todas as vertentes religiosas da Índia -- hindus, muçulmanos, cristãos, judeus -- em favor de uma sociedade tolerante, livre da miséria. Em janeiro de 1948 um radical ultranacionalista hindu, contrário à harmonia entre hinduísmo e islamismo, matou a tiros o homem que é exemplo de nacionalismo baseado em amor e não em ódio.

Na próxima semana escreverei sobre “A trincheira infinita”.