Intolerância e ódio na internet
Wilton Garcia
A produção de conhecimento no campo contemporâneo da comunicação e da cultura tangencia uma complexidade sobre intolerância e ódio na internet. Esse cenário inclui a produção de subjetividade e gera a produção da informação pautada pelo tema diversidade.
Aqui, evidencia-se a manifestação da diversidade -- de classe, gênero, orientação sexual, etnia/raça, religião, região. E o exibicionismo nas redes sociais espetaculariza quem se coloca em cena pública. A disputa de uma pose exibida tem um preço caro, pois atiça agressão.
Ou seja, um/a influenciador/a digital se arrisca publicamente para gerar conteúdo nas redes sociais e levantar bandeiras de empoderamento e engajamento (engagé). Empoderar serve para avançar firme em determinada perspectiva. E engajar solicita a participação enfática de seguidores/as.
A diversidade -- como metáfora de um caleidoscópio cintilante -- (re)formula o panorama flexível da internet e (re)conduz seu discurso político-identitário; mesmo no enlace do capital interessado em lucro. Porém, isso também ocasiona recusa impactada por intolerância e ódio. É uma insuportável rejeição, talvez, até inexplicável. A reação (quase) inevitável torna-se alvo fácil de massacre.
Para o filósofo esloveno iek (2017), “o surgimento surpreendente de algo novo que solapa qualquer esquema estável” suscita questionamento diante do estranho. Cada vez mais, a novidade desperta a atenção e garante mais-valia. A novidade se destaca. Na emergência do que aparece em cena, o ideal é experimentar a novidade: uma constelação de ideias e possibilidades a serem arquitetadas.
A alteridade intercambiante, nesse caso, amplia as adversidades do singular. As fronteiras alargadas pelo atrevimento da ideologia cedem lugar aos espaços alternativos, cujas lacunas do desconhecido (re)inscreve-se o diferente na esfera discursiva do estranho. São territórios fecundos e, por vezes, obscuros a serem (re)ocupados pelas malhas da diversidade, em expansão. Mais que isso, deslocam-se valores sem solicitar autorização, afinal a diversidade está em seu estado de manifestação primeiro -- explosivo no impacto da surpresa.
A comunicação e a cultura atualizam-se com inovações que o mercado-mídia, de maneira versátil, constitui valores compartilhados pelo capitalismo na sociedade atual. Mensagens de anúncios publicitários convincentes bombardeiam na internet para incentivar, persuadir e influenciar o consumo. Somam-se atitudes e comportamentos alterados pela violência incessante.
Por isso, o discurso de ódio (hate) nas redes sociais estimula a cultura hate (a raiva), capaz de disseminar a recusa efetiva pelo/a Outro/a. Quem não comunga do mesmo interesse é menosprezado, pois qualquer atitude alheia torna-se desviante e inadequada. A divisão sumária entre opressor/a e oprimido/a alimenta a dinâmica relacional de abandono e repulsa, ao evitar a presença de corpos diferentes.
Observar a configuração da violência, na internet, seria (re)dimensionar o ambiente hipermidiático por estratégias discursivas. Na maior parte, comentários desagradáveis e maldosos discriminam e motivam preconceito contra a dignidade humana. É fato: a sociedade brasileira não é tolerante.
Por certo, seria fundamental conseguir tolerar a dissonância de qualquer outra posição no desafio da sociabilidade. Na produção de feixes de efeito, isso cria a sensação de que nem tudo é festa, nem tudo são flores!
Wilton Garcia é professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da Universidade de Sorocaba (Uniso) e doutor em Comunicação pela USP. E-mail: wilton.garcia@prof.uniso.br