O ensino presencial é substituível?
Thífani Postali
De uma hora para outra, quase todos os professores e professoras tiveram de se reinventar durante a pandemia que assola o mundo em 2020.
Há um tempo, as discussões sobre a chegada da internet e as novas tecnologias de comunicação giram em torno da substituição das mais variadas atividades pelas ferramentas digitais. Alguns dizem que os livros físicos serão substituídos pelos e-books, que os jornais serão substituídos pelo formato digital e que até os professores serão dispensáveis diante das novas ferramentas de ensino e conteúdos disponíveis on-line. Bem, a pandemia intensificou essas discussões e tem colocado à prova muitas das hipóteses até então levantadas.
Sabemos da importância das tecnologias de comunicação para o ensino. Considerando região e situações, pessoas dependem diretamente de tecnologias da televisão às novas ferramentas de ensino a distância (EAD) para obter acesso ao conhecimento. Não quero com este texto minimizar a importância do uso das tecnologias para o ensino, ao contrário, busco trazer ao diálogo as diferenças entre as formas de comunicação para o aprendizado.
Com relação às tecnologias de comunicação, no passado, estudiosos diziam que a televisão substituiria o cinema; que a internet substituiria a televisão, o rádio, etc. O que vemos hoje é que essas tecnologias continuam, incorporando-se e reinventando-se. Assistir a um filme no cinema propicia uma experiência diferente da ocasionada por assistir ao mesmo filme numa tela de televisão, computador ou aparelho mobile. A verdade é que a experiência muda de acordo com a forma ou ferramenta de comunicação.
A comunicação presencial é fundamental à vida humana. O olho no olho, o calor da relação interpessoal, o ambiente da sala de aula ou dos laboratórios oferecem experiências que as novas tecnologias estão longe de suprir. Mesmo as aulas teóricas, que poderiam mais facilmente ser substituídas por videoaulas ou aulas ao vivo, creio que estão longe de uma vivência similar. Comparada ao filme visualizado em variadas ferramentas, a aula parece tornar as diferentes experiências oferecidas ainda mais visíveis. A cada dia do distanciamento social, fica mais evidente a importância de se entender as diferenças entre as formas de comunicação para o ensino, independentemente de nível.
E essas reflexões não se referem ao conhecimento do professor sobre as metodologias e ferramentas digitais para as aulas. Mesmo aqueles que têm mais conhecimento sobre as ferramentas encontram dificuldades no que se refere à motivação e engajamento de muitos discentes que já experimentaram as aulas presenciais. Creio que, no fundo, é mais uma questão da forma de comunicação (agora mediada por computadores conectados à internet) que da metodologia de ensino.
Teóricos da comunicação já nos alertaram que a comunicação interpessoal é diferente da comunicação mediada.
Estamos enfrentando um momento em que o único caminho para a educação é o uso de ferramentas digitais, e isso não deve ser novidade para ninguém. Apesar das dificuldades, essa experiência evidencia situações e aponta para os possíveis caminhos que o ensino tomará no período pós-pandemia. A figura do(a) professor(a) é indispensável em qualquer forma de ensino; o ensino presencial é diferente do virtual o que não retira a essencialidade do virtual em tempos de crise como esta, e também para aqueles que não têm acesso aos ambientes físicos, ou ainda em outras situações mais específicas. As novas tecnologias de comunicação, talvez, sejam fundamentais para a reestruturação do ensino, que não será completamente digital, mas o incorporará.
Claro que o futuro é imprevisível, mas muitos de nós já temos alguma experiência para identificar situações e a arriscar a pensar possíveis mudanças na educação.
Thífani Postali é doutoranda em Multimeios pela Unicamp e mestra em Comunicação e Cultura pela Uniso. É professora da Uniso e membro dos grupos de pesquisas e Nami e MiLu. Blog: www.thifanipostali.com