Precisamos de uma revolução na moda?
Sofia Coelho Moreira
Do francês mode, moda é um uso ou um costume de determinada região, durante determinado período. Na matemática, valor que ocorre com maior frequência ou o valor mais comum em um conjunto de dados.
Moda tem a ver com tendência e esta cria hábitos. Qual o nosso hábito consumidor? O que estamos consumindo? Você já parou pra se questionar sobre as etapas de produção até sua roupa chegar a você?
Não paramos pra pensar que estamos consumindo água ao comprar uma roupa, e muito menos que cerca de 20% da contaminação das águas no mundo vem do tingimento têxtil. Se formos considerar o plantio de algodão, temos o impacto em lençóis freáticos e nos solos devido ao uso intensivo de agrotóxicos.
Não paramos pra pensar que a confecção de nossas roupas pelos diferentes formatos e recortes geram sobras de tecido. Somente na região de confecção do Bom Retiro, em São Paulo, Capital, são gerados mais de 12 toneladas de resíduos sólidos todos os dias que vão parar em aterros sanitários.
Também não paramos pra pensar que a maioria das nossas roupas não é feita de algodão, nem de outra fibra natural, mas que são feitas de fibras sintéticas com matéria-prima vinda do petróleo. Vivemos mais próximos do plástico do que pensamos, o vestimos diariamente quando usamos roupas feitas de poliéster.
E como são feitas as roupas que vestimos? Muito se avançou em tecnologia desde a Revolução Industrial, mas e quanto as mãos que confeccionam as peças?
Estaríamos presos a um padrão de produção arcaico, onde há trabalhadores em péssimas condições de trabalho, tendo de trabalhar por mais de 14 horas para conseguir sobreviver? Parece que não demos muitos passos nesse sentido se compararmos com a situação dos trabalhadores têxteis do século 18.
A indústria têxtil britânica impulsionou a Revolução Industrial, provocando avanços na tecnologia, estimulando as indústrias de carvão e ferro, impulsionando as importações de matérias-primas e melhorando o transporte, o comércio e a inovação científica. Se a indústria têxtil serviu como propulsora para tantas inovações tecnológicas no contexto da Revolução Industrial que a têxtil possa agora impulsonar mudanças para uma cadeia produtiva mais ética e sustentável.
Em nível pessoal faz-se necessária também uma revolução nos nossos hábitos de consumo. Não percebemos que podemos ser agentes de transformação a partir das nossas escolhas ao consumir.
Perguntas como “quem fez minhas roupas?”, “onde foram feitas minhas roupas?” e “como foram feitas minhas roupas?” são estimuladas pelo Fashion Revolution, movimento que surgiu em 2013 na Inglaterra para conscientização sobre os impactos da indústria da moda e impulsionar uma forma de produção mais sustentável e justa. É necessária uma revolução na forma que consumimos e produzimos e a conscientização é o primeiro passo para que poderosas transformações sejam concretizadas.
O Fashion Revolution Week é o principal evento dentro desse movimento global e acontece este ano entre os dias 22 e 28 de abril. A Semana Fashion Revolution na cidade de Sorocaba contará com eventos todos os dias e são colaboradores para esta programação: Uniso, Esamc Sorocaba, Belas Artes Sorocaba, SmartMall Facens, ICT-Unesp Sorocaba, Jardim Urbano e Instituto Vezo de Moda.
A programação conta com palestras, oficinas, cinedebates, rodas da conversa e dois desfiles. O tema do desflie de sábado (27), às 18h no Jardim Urbano é “Inclua-se”, e o tema do desfile de domingo (28) SmartMall Facens é “Nós fizemos nossas roupas”. O local, horário e programação completa pode ser conferido no evento oficial do Facebook para a cidade “Semana Fashion Revolution Sorocaba” e também pelo site do Fashion Revolution Brasil (link de acesso: https://www.fashionrevolution.org/event/semana-fashion-revolution-sorocaba/).
Sofia Coelho Moreira é engenheira ambiental e mestre em Ciências Ambientais (ICT - Unesp Sorocaba), consultora em sustentabilidade para a cadeia de têxtil&moda e representante do Fashion Revolution em Sorocaba.