Precisamos exportar

Por

Sergio de Almeida Cid Peres

Nos últimos tempos temos tomado ciência dos crescentes números da exportação brasileira. Notícias nomeando o Brasil como celeiro do mundo têm sido uma constância, ou aquelas que destacam o excelente minério de ferro que extraímos em nosso solo. Mas estamos falando tão somente de commodities (devemos ler China como o grande comprador).

O problema não é exportar commodities, o que por sinal devemos manter e procurar explorar novos mercados, mas não podemos esquecer que nosso país também é produtor de produtos semimanufaturados e manufaturados, os quais possuem maior valor agregado, e principalmente maior utilização de mão de obra. E por que quase que não exportamos estes produtos?

O grande problema está na palavra “competitividade”, que nos falta para poder participar mais ativamente no comércio internacional. Ficamos girando em torno de 1,0% de participação neste mercado, muito pouco para um país que já foi a 6ª economia do mundo.

E como ser competitivo? Podemos começar pela educação, envolvendo treinamentos específicos, com a finalidade de melhorar nossa força de trabalho, ou seja, fazendo pesquisa vinculada à indústria, trazendo a indústria para dentro da universidade. Neste aspecto vamos nos espelhar em países como o Japão e a Coreia do Sul, os quais alavancaram seu desenvolvimento tendo como base o investimento na educação.

Mas o caminho tem de passar também pela infraestrutura e pela logística. Grande parte do pouco que temos se deve principalmente à iniciativa privada, que cansou de esperar por ações efetivas do Estado. Investir em modais menos custosos e principalmente oferecer condições de uso é um passo para o objetivo de ser competitivo. Faltam armazéns adequados para estocagem (o que obriga o produtor a vender o produto logo após a colheita, e como o mercado está saturado, o preço é menor). Em alguns Estados, como Mato Grosso, o índice da falta de armazéns adequados para estocar a produção chega à metade da capacidade dos armazéns instalados. Outro ponto são os longos caminhos que são cobertos por rodovia de baixa qualidade, congestionamentos em terminais portuários, etc. A quase inexistência de ferrovias, se nos compararmos com os EUA, um dos principais concorrentes na exportação de grão, não chegamos a 10% da malha ferroviária deste país. Não podemos esquecer dos tributos e, principalmente, da tão sonhada reforma tributária.

Nos últimos anos houve uma redução bastante representativa nas exportações brasileiras envolvendo alta tecnologia (ficamos na dependência da Embraer). Podemos, por exemplo, lembrar que, em 2000, o Brasil exportava três vezes mais itens de alta tecnologia do que a Índia. Hoje este cenário se reverteu e exportamos 80% do total da Índia. Isto representa principalmente menos emprego no nosso país.

Também precisamos ter uma atuação no campo diplomático, com relação às negociações internacionais, e buscar o acesso a mercados, serviços, agricultura, investimentos e compras governamentais. Nos últimos três governos, nosso país firmou somente três acordos de comércio, esses com o Egito, Irã e Autoridade Palestina. Sem dúvida, todo acordo é importante, mas o Brasil merece mais. Como fato positivo, estamos perto de fechar um acordo de Livre Comércio com a União Europeia, mas os efeitos deste acordo ainda vão demorar.

O Brasil precisa e muito melhorar a sua credibilidade internacional. Os últimos episódios de corrupção, problemas ambientais, um desmando entre nossos representantes, assuntos trazidos a todo instante pela mídia, já estão trazendo alguns desconfortos para o nosso país. Precisamos agir se quisermos ocupar o nosso espaço.

Sergio de Almeida Cid Peres é professor coordenador do curso de Comércio Exterior da Universidade de Sorocaba (Uniso).